As comemorações do 7 de setembro (Independência do Brasil) e do 20 de setembro (Revolução Farroupilha) não podem permitir que a palavra "povo" seja apenas uma expressão corriqueira e deturpada pelo mau uso. Não é uma questão de consulta dicionários, mas entendimento de que sinônimo pode significar, mais do que “grupo de pessoas”, um agregado de valores, referências, princípios, que deveriam formar uma identidade. Infelizmente, a identidade que, hoje, o “povo brasileiro” não tem...
A História não é ciência exata. Portanto, está sempre sujeita a interpretações. Mesmo novas pesquisas, novos entendimentos não garantem que se possa compreender o que de fato aconteceu e como pensavam as pessoas daquela época. Tanto num, quanto no outro caso. O certo é que sempre existiram idealistas e aproveitadores. Nenhum movimento e nenhuma causa escaparam de ter entre seus defensores aqueles que acreditaram piamente nas suas propostas, mas também os oportunistas de plantão, como hoje.
Revisitar a História não nos dá o direito de querer reescrevê-la (embora
sempre se diga que os vencedores é que a escrevem). Podemos tentar entender o
que se passou, como chegou a acontecer e as suas consequências. Afora isto, são
ilações, que muitas vezes beiram a má fé. O mesmo que negá-la porque não atende
aos “padrões” daqueles que a escrevem hoje. Quem assim o faz está negando seu
passado, com suas virtudes e seus defeitos. Seres que viveram intensamente, com
padrões culturais e sociais diferentes.
Setembro, especialmente para nós, gaúchos, deve ser ocasião privilegiada
de refletir sobre as relações sociais e culturais. Infelizmente, na maior parte
das vezes, ainda são momentos de conhecimento e representação das classes
intelectuais abastadas e sem qualquer interesse, a não ser por curiosidade, da
maior parte dos gaúchos comuns. A falta de educação formal da nossa gente e um
ranço histórico não permite que haja um sentimento popular de respeito pelos
símbolos, tanto do estado, quanto da nação.
Mesmo a forma como se escreve a História, hoje, será de difícil
compreensão, num futuro não muito distante. Olhar para as representações
políticas partidárias e administrativas é ver um quadro caótico de difícil
interpretação, porque não se tem uma identidade partidária que respeite
ideologia e princípios, virando uma maré de oportunismo, balançando conforme as
vagas que movimentam o poder. De onde não escapam sequer a cumplicidade de
grupos religiosos e de meios de comunicação...
A política (no sentido lato) existe para alcançar o bem social a maior
parte possível da população. Interpretações de uma visão de estado que dê
regalias a alguns deturpa o sentido da cidadania. É triste saber que privilégios
foram dados a grupos que legalizaram seu mando sobre a máquina administrativa –
executivo, legislativo e judiciário. Inversamente construídos sobre tudo aquilo
que pensaram os idealistas que de fato tinham o espírito gaúcho e brasileiro ao
concretizarem o 7 e o 20 de setembro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário