terça-feira, 5 de setembro de 2023

7 e 20 de setembro: em busca de uma identidade

As comemorações do 7 de setembro (Independência do Brasil) e do 20 de setembro (Revolução Farroupilha) não podem permitir que a palavra "povo" seja apenas uma expressão corriqueira e deturpada pelo mau uso. Não é uma questão de consulta dicionários, mas entendimento de que sinônimo pode significar, mais do que “grupo de pessoas”, um agregado de valores, referências, princípios, que deveriam formar uma identidade. Infelizmente, a identidade que, hoje, o “povo brasileiro” não tem...


A História não é ciência exata. Portanto, está sempre sujeita a interpretações. Mesmo novas pesquisas, novos entendimentos não garantem que se possa compreender o que de fato aconteceu e como pensavam as pessoas daquela época. Tanto num, quanto no outro caso. O certo é que sempre existiram idealistas e aproveitadores. Nenhum movimento e nenhuma causa escaparam de ter entre seus defensores aqueles que acreditaram piamente nas suas propostas, mas também os oportunistas de plantão, como hoje.

Revisitar a História não nos dá o direito de querer reescrevê-la (embora sempre se diga que os vencedores é que a escrevem). Podemos tentar entender o que se passou, como chegou a acontecer e as suas consequências. Afora isto, são ilações, que muitas vezes beiram a má fé. O mesmo que negá-la porque não atende aos “padrões” daqueles que a escrevem hoje. Quem assim o faz está negando seu passado, com suas virtudes e seus defeitos. Seres que viveram intensamente, com padrões culturais e sociais diferentes.

Setembro, especialmente para nós, gaúchos, deve ser ocasião privilegiada de refletir sobre as relações sociais e culturais. Infelizmente, na maior parte das vezes, ainda são momentos de conhecimento e representação das classes intelectuais abastadas e sem qualquer interesse, a não ser por curiosidade, da maior parte dos gaúchos comuns. A falta de educação formal da nossa gente e um ranço histórico não permite que haja um sentimento popular de respeito pelos símbolos, tanto do estado, quanto da nação.

Mesmo a forma como se escreve a História, hoje, será de difícil compreensão, num futuro não muito distante. Olhar para as representações políticas partidárias e administrativas é ver um quadro caótico de difícil interpretação, porque não se tem uma identidade partidária que respeite ideologia e princípios, virando uma maré de oportunismo, balançando conforme as vagas que movimentam o poder. De onde não escapam sequer a cumplicidade de grupos religiosos e de meios de comunicação...

A política (no sentido lato) existe para alcançar o bem social a maior parte possível da população. Interpretações de uma visão de estado que dê regalias a alguns deturpa o sentido da cidadania. É triste saber que privilégios foram dados a grupos que legalizaram seu mando sobre a máquina administrativa – executivo, legislativo e judiciário. Inversamente construídos sobre tudo aquilo que pensaram os idealistas que de fato tinham o espírito gaúcho e brasileiro ao concretizarem o 7 e o 20 de setembro!

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