Não tenho pretensão de dizer coisas absolutamente novas nos meus textos. Estamos num tempo em que dificilmente se consegue fazer isto. O que se precisa é encontrar um novo olhar sobre a mesma questão. Enriquecê-la ou enriquecermo-nos com aquilo que alguém diz a respeito. Fiquei feliz quando, coincidentemente, dois bons jornalistas – Túlio Milman e Juliana Bublitz – em “Uma disciplina na escola para entender os avós” e “O Japão e seus cafés da demência”, no mesmo dia, abordaram o que vinha gestando...
Em publicação anterior
falei da necessidade do jovem conviver com os avós para entender o
envelhecimento dos próprios pais. Tinha em mente o que tratei sobre a família
como “primeira escola”. Túlio lembrou que, quando o convívio familiar era mais
próximo, esta conexão acontecia naturalmente. Não é o caso de hoje. Diz, com
acerto, que “se os mais velhos precisam se atualizar para conversar com as
novas gerações, os mais jovens precisam aprender a conviver com quem tem mais
idade”.
Não há outra receita: a melhor forma de entender, aceitar e se preparar para envelhecer acontece quando se convive com idosos. O colunista de ZH brinca que poderia haver uma disciplina na escola com o título: “entenda os seus avós!” Justifica que “as transformações das pessoas determinadas pelo tempo – todas normais e naturais – deveriam ser ensinadas nas escolas, no sentido prático de estabelecer pontes de compreensão”. Vou mais longe: a disciplina deveria ser “aprendendo a envelhecer”!
Juliana comentou notícia do jornal Washington Post, ressaltando que, “nos
cafés da demência do Japão, pedidos esquecidos fazem parte do serviço”. População
envelhecida e o avanço de doenças neurodegenerativas fizeram surgir espaços de
convivência seguros para idosos. O café em que a reportagem esteve é conhecido
também por “Café dos pedidos errados”. Atendidas por um senhor com demência
feliz em recebê-las e a quem chegava, até mesmo quando confundia ou esquecia o
que havia sido pedido.
Muitos dos que estavam
ali têm na família alguém assim, “ou têm consciência de que um dia poderão ser
como ele”. Com a compreensão de que “o avanço da demência é um fenômeno global,
que todos os países enfrentam, inclusive o Brasil. Juliana também pergunta ao
leitor se iria a um café assim. E já responde que ela, sim. Eu também. O idoso consegue
fazer o que qualquer um faz, na medida em que é bem tratado, acolhido, consegue
se sentir feliz, quando responde positivamente, querendo ser parte deste todo.
Não consigo me convencer de que afastar idosos das suas casas seja solução.
Claro, há casos e casos... Jogar para debaixo do tapete o processo de
envelhecimento não significa que o adulto e o jovem de hoje um dia não serão
velhos. Ajudar o idoso a lutar pela vida é batalhar para não esquecê-lo e, num
futuro, não ser esquecido. Tomar consciência de que processos naturais –
inclusive do envelhecimento – seguem seu rumo, querendo ou não. Fica mais fácil
quando se aceita que a Natureza tem seus próprios caminhos...
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