domingo, 24 de setembro de 2023

Disciplina escolar: “aprendendo a envelhecer”

Não tenho pretensão de dizer coisas absolutamente novas nos meus textos. Estamos num tempo em que dificilmente se consegue fazer isto. O que se precisa é encontrar um novo olhar sobre a mesma questão. Enriquecê-la ou enriquecermo-nos com aquilo que alguém diz a respeito. Fiquei feliz quando, coincidentemente, dois bons jornalistas – Túlio Milman e Juliana Bublitz – em “Uma disciplina na escola para entender os avós” e “O Japão e seus cafés da demência”, no mesmo dia, abordaram o que vinha gestando...

Em publicação anterior falei da necessidade do jovem conviver com os avós para entender o envelhecimento dos próprios pais. Tinha em mente o que tratei sobre a família como “primeira escola”. Túlio lembrou que, quando o convívio familiar era mais próximo, esta conexão acontecia naturalmente. Não é o caso de hoje. Diz, com acerto, que “se os mais velhos precisam se atualizar para conversar com as novas gerações, os mais jovens precisam aprender a conviver com quem tem mais idade”.


Não há outra receita: a melhor forma de entender, aceitar e se preparar para envelhecer acontece quando se convive com idosos. O colunista de ZH brinca que poderia haver uma disciplina na escola com o título: “entenda os seus avós!” Justifica que “as transformações das pessoas determinadas pelo tempo – todas normais e naturais – deveriam ser ensinadas nas escolas, no sentido prático de estabelecer pontes de compreensão”. Vou mais longe: a disciplina deveria ser “aprendendo a envelhecer”!

Juliana comentou notícia do jornal Washington Post, ressaltando que, “nos cafés da demência do Japão, pedidos esquecidos fazem parte do serviço”. População envelhecida e o avanço de doenças neurodegenerativas fizeram surgir espaços de convivência seguros para idosos. O café em que a reportagem esteve é conhecido também por “Café dos pedidos errados”. Atendidas por um senhor com demência feliz em recebê-las e a quem chegava, até mesmo quando confundia ou esquecia o que havia sido pedido.

Muitos dos que estavam ali têm na família alguém assim, “ou têm consciência de que um dia poderão ser como ele”. Com a compreensão de que “o avanço da demência é um fenômeno global, que todos os países enfrentam, inclusive o Brasil. Juliana também pergunta ao leitor se iria a um café assim. E já responde que ela, sim. Eu também. O idoso consegue fazer o que qualquer um faz, na medida em que é bem tratado, acolhido, consegue se sentir feliz, quando responde positivamente, querendo ser parte deste todo.

Não consigo me convencer de que afastar idosos das suas casas seja solução. Claro, há casos e casos... Jogar para debaixo do tapete o processo de envelhecimento não significa que o adulto e o jovem de hoje um dia não serão velhos. Ajudar o idoso a lutar pela vida é batalhar para não esquecê-lo e, num futuro, não ser esquecido. Tomar consciência de que processos naturais – inclusive do envelhecimento – seguem seu rumo, querendo ou não. Fica mais fácil quando se aceita que a Natureza tem seus próprios caminhos...

Nenhum comentário: