Acompanhei algumas das atividades, especialmente escolares, onde as mães da família ou da vizinhança foram homenageadas. Num primeiro momento, pensei: "é sempre a mesma coisa". Como a vida, que se repete praticamente da mesma forma, mas que depende de quem a vive para ter significado e, muitas vezes, ressignificado. Pensei nas mulheres que recebem, hoje, todos os adjetivos (e são merecidos) como ser especial marcado por uma certeza: tem coisas que somente as mães são capazes de fazer!
A jovem assistente social visitou a
casa geriátrica para conhecer a mulher de quem a mãe falava e cuidara dos
filhos, em especial de um autista, e do marido, até morrerem. Depois, havia se
recolhido à solidão, cansada e pensando que já não havia mais o que fazer. Fora
guerreira, sem fazer nenhuma guerra. Arrojada, sem estar à frente de uma
empresa. Referência, com seu discurso mais forte sendo pontuado por silêncios.
Já não falava, mas ainda tinha muito carinho no jeito como a olhou e segurou as
suas mãos.
No grupo de idosos, fizeram uma
oficina sobre o usos de recursos do celular. Até então, servia apenas como
telefone. A partir dali, descortinou-se um mundo muito diferente. A idosa se
encantou com a possibilidade de mandar mensagens de voz. Foi auxiliada a enviar
a primeira e depois não parou mais. Tinha endereço certo e repetia: "Filho,
a mãe te ama." Esperou resposta que não veio. Depois do seu enterro, o
filho voltou para casa e percorreu a caixa com as mensagens da mãe. Dezenas,
sem terem sido respondidas...
O neto mostrou-lhe um desenho em
que aparecia um idoso e uma criança, ambos com andadores. Com a frase: "o
começo e o fim são semelhantes. Aproveite o intervalo". Entendeu a
mensagem, mas não quis comentar, porque sentiu-se triste em pensar que a criança,
de fato, estava recém iniciando e tinha a vida pela frente. No entanto, ela, com
quase 85 anos, já estava se aproximando do fim. Compreendia que era preciso
valorizar o "intervalo", mas não se podia desprezar ou minimizar o
tempo que ainda restasse.
A vida não dá uma segunda chance para cuidar de uma mãe ou de um pai. É
oportunidade que não volta. Uma experiência única. A melhor forma de aplicar a
alteridade (o reconhecimento e o respeito das diferenças entre as pessoas), que
se dá no cuidado físico, psicológico e espiritual de alguém que depende de nós
por doença, debilidade, carência ou idade. Não existe melhor remédio para sair
do “umbigocentrismo”. Os cuidados em que, muitas vezes, não há prazo, precisam
de muita tolerância e respeito.
Não é se acomodar a uma situação e deixar que o tempo passe. Sequer se
adonar da personalidade do outro(a), mas permitir, até o fim, que mantenha a
própria identidade. Arrependimento e remorso, especialmente depois da morte, é próximo
da omissão, um crime contra quem somente quis a felicidade dos filhos. Então,
Se você é jovem, pense que um dia vai ser idosa... Se é idosa, aproveite. Envie
mensagens para quem você quer bem, da forma mais simples. Pode ser apenas
dizendo "filho, a mãe te ama!"
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