terça-feira, 23 de maio de 2023

A rua e a busca pela reinserção social

Há muito tempo que, nas conversas que faço com grupos religiosos e comunitários da sociedade, procuro diferenciar a atuação nos Meios de Comunicação Social e o trabalho interno nas instituições, que utilizam técnicas de comunicação. Meios de comunicação têm uma dinâmica própria e exigem preparação profissional. Pastorais da comunicação, por exemplo, ligadas às Igrejas Cristãs, demandam disponibilidade e boa vontade para atuar, especialmente, como facilitadores do convívio e da reinserção social.

Não pude deixar de pensar nisto quando vi a notícia de que a Prefeitura de Pelotas, junto com a Organização Não Governamental Vale a Vida e a Organização da Sociedade Civil Gesto, iniciou mutirões de abordagem social para atender aqueles(as) que estão em situação de rua e vulnerabilidade social. Servidores e parceiros percorreram a cidade para localizar, mapear e estabelecer vínculos com estas pessoas. Se possível, inseri-las nos serviços socioassistenciais e demais políticas públicas que o Município possui.


Um primeiro gesto foi o oferecimento de cobertores, já que o clima noturno se apresenta com temperaturas mais baixas. Mas a atuação avança quando demonstra preocupação com a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes e aqueles que utilizam as ruas para morar e/ou sobreviver. O Centro de Promoção e Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua – Centro Pop - disponibiliza acolhimento, guarda de pertences, higiene, alimentação e providenciar documentos.

Não conhecia, mas acompanhei matéria veiculada no final de semana e vi a gama de serviços que precisam, efetivamente, da confiança de uma parcela da população que tende, por si só, a ser desconfiada. Encaminham “serviços socioassistenciais e demais políticas públicas que possam contribuir na construção da autonomia, da inserção social e da proteção às situações de violência. É oferecido trabalho técnico, orientação individual e grupal, e atendimento individualizado com assistente social e psicólogo.”

Proporciona endereço para referência em cadastros. Não menos importante, recebe acesso ao Restaurante Popular. É uma gama de serviços que demanda, para além da qualificação técnica, sensibilidade para lidar com aqueles e aquelas que foram, de alguma forma, judiados pela vida. Durante a pandemia, grupos religiosos e sociais fizeram um trabalho, especialmente de alimentação, e sentiram todas as carências e as muitas dificuldades em atendê-los. Já se percebia que alimentar era apenas um início...

Serviços públicos e parcerias sociais vão levar um tempo para esta proximidade. Não há soluções imediatas enquanto estas pessoas não se convencerem de que podem, sim, sair desta situação. São histórias comoventes e mostram a vida dura que leva quem é considerado “desocupado” por opção. É difícil alguém que não tenha tentado tudo que lhe era possível até chegar ao fundo do poço. Infelizmente, existe uma linha fronteiriça que, depois de ultrapassada, cobra um preço muito alto para a sua reinserção social.

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