Acho engraçado o jeito como aprendi a gostar de futebol. Na infância, o mundinho era do tamanho da minha rua e os times que conhecia eram o meu amado Pelotas, O Fantasma do Fragata (Farroupilha) e o “Brasilzinho” (brincadeirinha). Confesso que não sei o motivo pelo qual passei a torcer pelo Pelotas. Já contei uma vez, mas meu irmão, o Cláudio, ficou Farroupilha porque um vizinho o convenceu com um caminhãozinho de lata. Na época, não tinha ninguém na família que torcesse pelo Brasil de Pelotas.
Quando fui para o Seminário, em 1967, numa turma de
17 alunos, 15 eram gremistas (vindos da Serra Gaúcha, os gringos), um colorado
(de Pedro Osório) e eu que ali fui saber que existia Grêmio e Internacional. Já
narrei este causo: foi o ano em que o Grêmio se sagrou campeão pela sétima vez.
Por solidariedade, tornei-me colorado e, no ano seguinte, o Inter interrompeu a
sequência e chegou a oito vezes campeão estadual, até 1975, quando também se
sagrou campeão nacional. Eu até que era pé quente...
Durante o tempo que estive no Seminário – mais de dez anos – o futebol da capital era a febre e os jogos locais somente interessavam quando um dos grandes clubes viesse a Pelotas. Já começava a fazer cursos em Porto Alegre e sempre encontrava um jeito de adequar a agenda com algum jogo, especialmente dos campeonatos nacionais, no Beira Rio. Ficávamos na Vila Betânia (uma casa de retiros e hospedagem) e, muitas vezes, as irmãs nos pediam que levássemos sobrinhos e afilhados para acompanhar algum jogo.
Como estudante de jornalismo, tínhamos encontros com
quem atuava na comunicação em todo o estado e - ninguém é de ferro –
arranjava-se a agenda para jogos também num estádio que agora está atirado às
moscas... Como é mesmo o nome? Lembrei, acho que lembrei... Mosqueteiro ou
Olímpico? Com rivalidade acentuada nos dias seguintes e discussões que ganhavam
os cafés, as horas de folga e os passeios. Nossa Senhora da Glória, aos pés da
Vila Betânia, nunca teve tantas promessas e pedidos de ajuda...
Nem pensava em torcer para o Grêmio. Sequer quando,
dizem, representa o estado. Uma bobagem. Como dizia o comentarista Lauro
Quadros: “colorado não sabe se é colorado ou antigremista e gremista não sabe
se é gremista ou anticolorado”. Mas não tenho este sentimento com relação ao
Brasil de Pelotas. São muitos amigos torcedores e, confesso (me perdoem os
áureo-cerúleos) tenho simpatia (discretamente) pelo Xavante. Em jogos como o de
terça-feira passada, contra a Ponte Preta, foi arrepiante.
Revi, ali, o futebol do passado: a garra de
jogadores e treinador mais uma torcida que veste a camisa 12. Um estádio que
ruge durante todo o jogo e o bafo na nuca do adversário, que pode ser
experiente, mas se abala com a energia das arquibancadas. Não desprezem esta
torcida e seu time. É o congraçamento de todas as condições sociais, onde,
muitas vezes, o coração salta do peito, rola até a chuteira e liberta o grito
sentido, ressentido, envolto em lágrimas e risos, a perfeita sinfonia do gol e
da sua fiel torcida!
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