Lidar neste ambiente tornou-se confuso e, em nome de uma suposta “governabilidade",
se atropelam a ética e a moral pregando a necessidade de que, para atender interesses
de parceiros, se avance em trôpegas e duvidosas conquistas sociais. O cidadão que
não recebe os “benefícios” de estar em um grupo político, depara-se com uma
estrutura estatal ultrapassada. Usando a velha figura: "devagar, quase
parando", confirmando o jargão: "pagam-se impostos de primeiro e se
têm serviços de terceiro mundo".
Não é preciso ser cientista político ou sociólogo para saber que a
polarização dos últimos anos acirrou o fosso divisório entre uma suposta
esquerda e uma suposta direita. Que também cavaram uma trincheira com uma
população indiferente, cansada e confusa, presa mais do que fácil de ilusionistas
(de ambos os lados). O que, crime dos crimes, leva à apatia, participando cada
vez menos da sociedade civil, tendo como resultado o incentivo dos extremos, tornando
as pessoas receptivas a líderes populistas.
Mania de professor, mas prefiro repetir: valores democráticos são o
respeito à vida, ao ser humano e suas diferenças, a responsabilidade, a
honestidade, a solidariedade e a justiça. Exatamente os valores que estão sendo
enfraquecidos, relativizados, já que, não havendo lugar onde as pessoas de
diversas identidades e vertentes ideológicas divergentes possam se encontrar,
não haverá engajamento com objetivos comuns e, consequentemente,
relacionamentos cooperativos. Perdendo a própria democracia.
As dificuldades (omissão) de grupos que formavam lideranças - igrejas, associações,
sindicatos, educação... - têm sido fator que dificulta elemento fundamental
para a natureza humana: o grupalismo. Demanda tempo, mas, provocado e
incentivado, inspira a cooperação e a amizade, ao invés do que se está vendo
hoje: ódio, ressentimento e a violência. É uma lesão do tecido social que afeta
a todos. Já que, ausente o sentimento de corresponsabilidade, prega-se uma
suposta tutela, ao invés do respeito à democracia.
Voto é a “tutela” do sistema democrático. Para produzir efeito e se
concretizarem seus ideais necessita “reiniciar” o processo de educação. Muitos
dirão que estão cansados de ouvir a mesma conversa. Garanto: não estou cansado
de repetir, porque, de tudo o que se aprendeu, enquanto sociedade, não se tem alternativa.
Em algum momento, errou-se o caminho para chegar aonde se chegou. E o preço
social foi bem alto. Não é questão de voltar atrás, mas dar novo rumo para o
nosso desgastado e frágil sistema democrático...
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