terça-feira, 7 de março de 2023

A democracia adoeceu

A democracia é o sistema representativo que deve ser capaz de proporcionar a todas as correntes ideológicas (e até àqueles que não tem nenhuma) o direito de expressão e representatividade. Embora as condições de governar sejam dadas a quem alcança a maioria, não significa que possa descartar as minorias. No entanto, presencia-se o dilema em estabelecer “novas lideranças políticas” e a polarização dos últimos anos, com a vontade da esquerda em calar a direita e da direita em calar a esquerda.

Lidar neste ambiente tornou-se confuso e, em nome de uma suposta “governabilidade", se atropelam a ética e a moral pregando a necessidade de que, para atender interesses de parceiros, se avance em trôpegas e duvidosas conquistas sociais. O cidadão que não recebe os “benefícios” de estar em um grupo político, depara-se com uma estrutura estatal ultrapassada. Usando a velha figura: "devagar, quase parando", confirmando o jargão: "pagam-se impostos de primeiro e se têm serviços de terceiro mundo".

Não é preciso ser cientista político ou sociólogo para saber que a polarização dos últimos anos acirrou o fosso divisório entre uma suposta esquerda e uma suposta direita. Que também cavaram uma trincheira com uma população indiferente, cansada e confusa, presa mais do que fácil de ilusionistas (de ambos os lados). O que, crime dos crimes, leva à apatia, participando cada vez menos da sociedade civil, tendo como resultado o incentivo dos extremos, tornando as pessoas receptivas a líderes populistas.

Mania de professor, mas prefiro repetir: valores democráticos são o respeito à vida, ao ser humano e suas diferenças, a responsabilidade, a honestidade, a solidariedade e a justiça. Exatamente os valores que estão sendo enfraquecidos, relativizados, já que, não havendo lugar onde as pessoas de diversas identidades e vertentes ideológicas divergentes possam se encontrar, não haverá engajamento com objetivos comuns e, consequentemente, relacionamentos cooperativos. Perdendo a própria democracia.

As dificuldades (omissão) de grupos que formavam lideranças - igrejas, associações, sindicatos, educação... - têm sido fator que dificulta elemento fundamental para a natureza humana: o grupalismo. Demanda tempo, mas, provocado e incentivado, inspira a cooperação e a amizade, ao invés do que se está vendo hoje: ódio, ressentimento e a violência. É uma lesão do tecido social que afeta a todos. Já que, ausente o sentimento de corresponsabilidade, prega-se uma suposta tutela, ao invés do respeito à democracia.

Voto é a “tutela” do sistema democrático. Para produzir efeito e se concretizarem seus ideais necessita “reiniciar” o processo de educação. Muitos dirão que estão cansados de ouvir a mesma conversa. Garanto: não estou cansado de repetir, porque, de tudo o que se aprendeu, enquanto sociedade, não se tem alternativa. Em algum momento, errou-se o caminho para chegar aonde se chegou. E o preço social foi bem alto. Não é questão de voltar atrás, mas dar novo rumo para o nosso desgastado e frágil sistema democrático...

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