sexta-feira, 10 de março de 2023

Queres ser meu amigo?

Chegaste com um sorriso que me envolveu,

Me abraçou e dispensou as palavras

Para te tornares meu amigo.

Minha felicidade era proporcional

Aos momentos em que convivemos,

Estabelecemos parcerias,

Fizemos a cumplicidade

Transformar-se em sintonia perfeita:

Um convívio que imaginava ser eterno...

 


Mas o tempo, sempre o tempo,

Levou aquilo que sonhava ser por toda a vida.

Restaram em meus olhos

E em meus passos cansados

A certeza de que a amizade

É bênção, dádiva,

Que justifica devaneios,

Projetos, acertos e incertezas

Que alcançam sentido

Quando se quer viver apenas o presente.

Depois, ficam as marcas e a sensação

De que se provou de uma especiaria que apenas

Os deuses são capazes de sorver...

 

As perdas dão a garantia de que não se conseguiu

Viver plenamente o tempo oferecido.

Depois, andando pelos mesmos destinos,

Em muitas ocasiões, tive vontade de fazer

Como as pessoas que sangram as suas ausências

Procurando pelas ruas e estradas

Quem lhes ofereça o abrigo do

Enlace de um corpo,

Onde as carências podem ser compartilhadas,

Sem perguntas, sem explicações,

Apenas na sensação de que se revive

Uma fagulha que não pode ser extinta.

 

Tem-se o eco que demostra

A falta que faz um abraço, um olhar, um afago,

O riso, as singelas palavras

E os muitos significados do silêncio.

São fissuras afetivas que a saudade

Abre sem que se encontrem perspectivas.

Acarinhar é a cura que rega a terra,

Enriquece as bordas dos córregos

E não deixa assorear o coração.

 

Amizade é o tempo entre

A chegada e a partida,

O princípio e o fim...

Não se pode ter medo de acolher

E nem de dizer adeus.

Fica nos lábios o murmúrio não dito,

Enquanto pelo olhar se brada

Que dói estar só,

Se lança apelo para ser aninhado ao colo,

Recolher cada parte de um espírito

Ferido e cansado, que somente

A esperança recupera o sentido de viver.

A intensidade da pergunta que sequer precisa ser dita:

Queres ser meu amigo?

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