O Cântico dos Nomes (Netflix) é um filme diferenciado. Classificado como drama musical, a obra do canadense François Girard é trama necessária para se compreender o Holocausto, especialmente dos judeus, durante a 2ª Guerra Mundial. Sem ser baseado em fatos, mesmo assim, transmite um sentimento necessário de veracidade, dando credibilidade a personagens que se envolvem na magia da música, tratando com delicadeza e respeito a fé religiosa, a família, a amizade e a linguagem musical.
Inicia quando o violinista Dovidl Rappaport
desaparece exatamente no dia em que deveria dar o seu primeiro concerto
público. Durante mais de 30 anos, Martin Simmonds, que se tornou “irmão” pela
morte dos familiares do primeiro em campo de concentração, o procura. Para quem
acredita, o destino vai colocando evidências de que poderá encontrá-lo. Mas a
coisa não é tão simples: embora tudo indicasse um surto de vaidade, o que vai
se descobrindo é que Dovidl fez um reencontro com o seu passado.
Arrepiante, quando se descobre que o título remete ao ato de ler em voz alta todos os nomes de judeus que perderam a vida em Treblinka, no formato de uma oração, entoada por um rabino, remexendo uma ferida sem cicatriz. Na noite em que se perdeu para a família inglesa, descobriu uma comunidade judaica que cultiva a memória de seus mortos... e o embalo doloroso da sequência de nomes dos que foram apagados pela barbárie e cobra a mudança de quem, antes, havia renegado a fé e a própria religião.
Como num chamado de sangue, sente que tem que fazer
isto em forma de uma peça musical para um instrumento que conhece bem: o
violino. É uma longa jornada que o leva ao campo de concentração e saldar a
dívida com o pai de coração que morreu à sua espera. A apresentação tão
desejada e o retorno à Israel. O irmão que o procura acredita que valeu a pena esperar
35 anos, num tempo curtido pela dor e pela angústia, que iniciou pelo embate
entre duas culturas e fez uma parceria na infância e na juventude.
Tendo como pilares a temática religiosa (o Judaísmo)
e a amizade (um judeu e um inglês), o filme é profundo sem ser piegas ou se
preocupar com lições morais. Existem questões que o tempo apaga e outras que a
própria sociedade tem que se esforçar para que não sejam esquecidas. Depois da
segunda grande guerra ficamos com a impressão de que a humanidade havia
aprendido a lição. Foi um engano. Os mesmos interesses que levaram ao confronto
ainda existem e vendem armas nos embates menores e locais.
Nenhuma guerra se justiça. Nenhum povo, nenhum grupo
social merece sequer a especulação do seu extermínio. Como todas as feridas que
a sociedade cria com suas disputas mesquinhas, sem a capacidade de curá-las,
faz da vida um reencontro e, novamente, o tempo da partida. Chegar a Treblinka,
onde morreram seus pais e sua irmã, e se apresentar no auditório onde a plateia
ficou esperando, o amadurece para “desaparecer”, novamente, imerso no seu
destino e na busca da sua própria identidade.
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