A Quarta-feira de Cinzas (22/02), num calendário tradicional, seria o final dos festejos de Carnaval. Tempo de iniciar a Quaresma, os 40 dias que precedem a Páscoa. Nestes tempos confusos, em que as festas momescas se estendem por praticamente todo o ano, ainda assim, a Igreja Católica Romana mantém e lança a sua já tradicional Campanha da Fraternidade. Este ano, a proposta de conscientização traz o tema “Fraternidade e fome”, sugerindo como desafio o lema evangélico: “Dai-lhes vós mesmo de comer”.
Entre grupos organizados, sugere celebrações penitenciais, via-sacra (com estudantes, familiares e educadores), contextualizando seus roteiros a partir do fenômeno da fome física, mas também da fome de Deus e, porque não, a fome pela justiça e a paz. Tanto na internet quanto em opúsculos físicos, pode ser encontrado um texto-base da Campanha da Fraternidade 2023, que atua no que a instituição julga essencial: despertar o espírito de caridade e de compromisso naqueles que se propõem a seguir Jesus Cristo.
A Associação
Nacional de Educação Católica do Brasil respalda trabalho da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Busca conscientizar seus quadros e,
também, a sociedade para o flagelo da fome sofrida, hoje, por uma população
que, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, no país, é de
33,1 milhões de pessoas. O escândalo é que, somente no ano passado, 14 milhões
de novos brasileiros entraram em situação de fome, fruto da ausência de
políticas públicas e a pandemia.
A temática é
concreta, já que a “caridade” faz parte do tripé que sustenta a crença católica,
junto com a “fé” e a “esperança”. As discussões em grupos desafiam as
comunidades a assumir responsabilidade diante da fome que persiste no país,
assim como se revelou durante os últimos tempos em grupos organizados que
prepararam e distribuíram sopões, quentinhas, cafés, roupas e material de
higiene. Em casos diretos de atendimento a famílias, assim como minorando o
sofrimento de moradores de rua.
É um confronto com
o aumento da parcela da população que entrou na linha da pobreza e,
especialmente, da miséria. Dados de institutos sociais comprovam o acirramento
do desemprego (com retorno gradual em que salários são achatados) e pessoas sem
condições de colocar na mesa da família um número mínimo de refeições.
Flagrante contraste de uma economia que já vinha mal das pernas antes da
pandemia e que não encontra equilíbrio entre atender ao capital (sua
prioridade) e a população.
Além do atendimento
por católicos, evangélicos, umbandistas, espíritas, voluntários de atividades
sociais, haverá, em 2 de abril, Domingo de Ramos, abrindo a Semana Santa, uma Coleta
Nacional de Solidariedade. Certos de que a cobrança ao poder público por
políticas sociais que atendam esta população é elemento chave. Mas, também,
passa por processo de educação política. Sem o direito de se omitir quando
existem condições de tornar concretos o cuidado e a atenção que resgata a
própria dignidade humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário