O ano iniciou, no Jornal do Almoço da RBS TV, com uma série que me chamou a atenção: o repórter Arildo Palermo (Pelotas) acompanhou, junto com o experiente cinegrafista Pierre Schlee, a Expedição Faróis. Podem ter certeza, não é para os fracos. Saíram da praia da Capilha, no Taim, interior de Rio Grande; seguiram pela beira da Lagoa Mirim; cruzaram a BR 471, até a faixa de areia; alcançaram o farol Sarita, o farol Albardão, já em Santa Vitória do Palmar; e a barra do Chuí, ponto mais ao sul do Brasil.
Aventura a pé, por 190 quilômetros, em oito dias. Interessante acompanhar
a expressão facial do Arildo entre a gravação na saída: descansado, curioso,
motivado; no percurso e o sentimento da chegada. Um companheiro registra que um
dos primeiros desafios da vida é caminhar e eles têm uma trilha de longo curso
em área de preservação, dunas em meio aos campos, em muitos momentos, como
registrou: “só horizonte, só céu azul”, descobrindo que “não é o quanto tu
caminhas, mas o quanto tu expandes...”
E os horizontes são muitos: o próprio físico, o tempo, as emoções, o aprendizado do convívio... Quando é necessário beber do “ânimo das parcerias”, ao contemplar a natureza que oferece árvores em plenas dunas, que “formam uma paisagem de cinema”. Na biomassa dos pampas, encontrar figueira de 800 anos onde descansam e comem pastel ou atentar para as capivaras que circulam tranquilamente. Depois de um certo tempo, “tu já não sabes se o mundo ainda existe lá fora...”
O sorriso simpático do garoto/repórter é afetado por noites mal dormidas, dificuldades
que tentam em desistir, as intempéries que não poupam o andante. Atento ao que
outros mais experientes lhe dizem, mantém-se disposto a aprender, não apenas
para fazer a reportagem. Em momentos mais difíceis, com o semblante cansado,
não impede que sorria e se encante com o canto dos pássaros, quebrando todos os
protocolos das redações jornalísticas, quando motiva a quem assiste: “vamos embora,
meus queridos!”
A gente sofre junto com o repórter naquilo que é mais simples, como olhando
o que ainda tem que percorrer e reconhece que a areia mais fofa é mais difícil
de caminhar. Mas que a jornada está enrijecendo os músculos e o espírito: “dá
pra curtir mais quando a gente acostuma”. Para em seguida descrever o que está
no horizonte da noite, quando chegam ao acampamento e podem descansar com a “Lua
cheia e lenha na fogueira”. Desafio de cada dia, com descrição das dores e as
pequenas (e necessárias) conquistas.
No caminho, recebem tecidos para escrever palavras que representem a
jornada. O repórter estropiado, querendo apenas cama e sinal de celular,
deposita no varal das orações: “resiliência, fé, paciência”, num momento de
silêncio e gratidão. Arildo reconhece: “não tem como não se emocionar... tá
louco!” Uma companheira resume: “a questão não é o quanto tu caminhas, mas o
que aproveita do caminho”. Vencer, transpor limites, se emocionar com a vida e
as parcerias... O que faz valer a pena o início de cada jornada é o passo
cansado que faz a gente ficar mais próximo dos sonhos!
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