sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

O espanto e o encanto da cartola perdida

Ali por onde passa a brisa

Em que a noite escura aconchega o silêncio,

Quebrando o breu que apenas dá contorno às casas.

Sob a luz de um lampião de rua, no chão,

Que começa a ser forrado pelas

Folhas e flores que insinuam o Outono,

Há uma cartola de mágico perdida,

Sobre pedras que fazem o leito do passante.

 

Na espera da bruma da manhã

Passos cansados e informes marcam

A procura por quem a deixou para trás.

Num momento, a gente pisca os olhos

E pensa que ela vai desaparecer

Ou fazer surgir algum daqueles encantos

Que ficaram em nossas saudades.

 


Mas não, foi deixada para trás,

Esconde sentimentos que somente

Se pode auscultar com o coração.

No sonido que desperta o passado,

A banda ainda embala as palmas que

Incentivam o cortejo que acompanha

O artista envolto em seu mistério.

Os olhos se prendem às mãos e aos gestos

Que brincam com o imaginário

E colocam um brilho no olhar.

 

Não é tempo de pensar.

É tempo de se encantar.

O circo resgata brincadeiras de infância,

Sonhos deixados na esteira

De épocas idas em que se idealizava

Ser protagonista,

Ter uma bela assistente,

Chamar a plateia para se divertir.

 

A cartola abandonada no leito da rua

É também o tempo que passou

E foi se desprendendo do encanto.

Momento de deixar o picadeiro e tomar

Um outro caminho:

As lembranças nos dão

O sentimento de que a felicidade

Deu o gosto de viver plenamente um instante.

 

A magia do ilusionista necessita

Dar lugar à magia da vida.

O brilho no olhar,

O inusitado que arranca aplausos,

O susto que faz com que se leve a mão ao peito...

Já não está mais no grande palco.

 

A cartola que dança ao sabor do vento

Precisa encontrar um coração

Que não perdeu a capacidade de se

Surpreender com a magia do instante presente.

Não é o passar do tempo que mata o fascínio,

É quando se perde o sentido do encontro,

Superar os desencontros e a eterna busca

Pelo reencontro, no espanto e no encanto

Que não distingue o menino do ancião!

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