Ali por onde passa a brisa
Em que a noite escura aconchega o
silêncio,
Quebrando o breu que apenas dá
contorno às casas.
Sob a luz de um lampião de rua, no
chão,
Que começa a ser forrado pelas
Folhas e flores que insinuam o
Outono,
Há uma cartola de mágico perdida,
Sobre pedras que fazem o leito do
passante.
Na espera da bruma da manhã
Passos cansados e informes marcam
A procura por quem a deixou para
trás.
Num momento, a gente pisca os olhos
E pensa que ela vai desaparecer
Ou fazer surgir algum daqueles
encantos
Que ficaram em nossas saudades.
Mas não, foi deixada para trás,
Esconde sentimentos que somente
Se pode auscultar com o coração.
No sonido que desperta o passado,
A banda ainda embala as palmas que
Incentivam o cortejo que acompanha
O artista envolto em seu mistério.
Os olhos se prendem às mãos e aos
gestos
Que brincam com o imaginário
E colocam um brilho no olhar.
Não é tempo de pensar.
É tempo de se encantar.
O circo resgata brincadeiras de
infância,
Sonhos deixados na esteira
De épocas idas em que se idealizava
Ser protagonista,
Ter uma bela assistente,
Chamar a plateia para se divertir.
A cartola abandonada no leito da
rua
É também o tempo que passou
E foi se desprendendo do encanto.
Momento de deixar o picadeiro e
tomar
Um outro caminho:
As lembranças nos dão
O sentimento de que a felicidade
Deu o gosto de viver plenamente um
instante.
A magia do ilusionista necessita
Dar lugar à magia da vida.
O brilho no olhar,
O inusitado que arranca aplausos,
O susto que faz com que se leve a
mão ao peito...
Já não está mais no grande palco.
A cartola que dança ao sabor do
vento
Precisa encontrar um coração
Que não perdeu a capacidade de se
Surpreender com a magia do instante
presente.
Não é o passar do tempo que mata o
fascínio,
É quando se perde o sentido do
encontro,
Superar os desencontros e a eterna
busca
Pelo reencontro, no espanto e no
encanto
Que não distingue o menino do
ancião!
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