A morte do papa Bento XVI não pegou ninguém de surpresa. Interessante acompanhar sua carreira eclesiástica (sim, literalmente, uma carreira dentro da Igreja Católica). Homem inteligente, um intelectual preparado, esteve presente no Concílio Vaticano II, ainda jovem, com um futuro promissor, que se confirmou. Sem detalhar currículo, vale a pena destacar que foi convocado por João Paulo II, que também pode ser chamado de papa pastor, mas que foi, realmente, um papa político, na plena acepção da palavra.
Ao lado, precisava de alguém que conhecesse os
meandros do Vaticano, especialmente da Teologia e a chamada Tradição da Igreja.
Homem de confiança, respaldou a atuação de um papa preocupado em retomar o que,
considerava, haviam sido desvios, como foi o caso da Teologia da Libertação.
Embora cardeais, arcebispos e bispos neguem de pés juntos, foi preparado para
suceder João Paulo, no único caso das escolhas recentes em que a maior aposta
entre os candidatos confirmou-se no “habemus papa!”
Também vai se negar, mas era límpido que o cardeal Ratzinger tinha no seu horizonte a possibilidade de assumir a Sé de Pedro. Talvez tenha sido um erro de cálculo, pois o papado de João Paulo II se estendeu por 26 anos e o cardeal já estava com 78 anos ao assumir. Para quem gostava de boa música, companhia dos livros, orações e tempo para teorizar, devem ter sido longos 8 anos em que descobriu que uma coisa era atuar nos bastidores e, a outra, lidar com as tempestades que já se anunciavam na Igreja.
Havia escrito a seu respeito. Em especial, lembro da
visita aos campos de concentração na Alemanha, onde sua figura já alquebrada
era um triste tributo de reconhecimento dos pecados da sociedade e da
organização que dirigia. Mas passou a ter o meu maior respeito quando resignou
(aposentadoria), num discurso feito em latim que grande parte dos cardeais e da
imprensa que cobriam o evento, naquele momento, sequer chegaram a entender.
Mudam os tempos, quebram-se as tradições... E o Mundo continua girando...
Vaticanistas, que analisam as ações da Igreja
Católica em Roma, insistiram em dizer que não havia preparação para tal evento.
Ora, a Santa Sé tem uma máquina política que funciona não somente “intra” muros,
mas também nas relações internacionais, tendo sido, em mais do que um momento,
chamada a mediar conflitos. O fato de que o papa Francisco passou a pedir
orações por Bento XVI era sinal claro do seu fim e anunciar que teria o
tratamento funerário de um papa não é algo pensado de supetão.
Nas disputas internas da Igreja Católica, ficou
claro que grupos tentaram jogar o papa aposentado contra o atual. Embora Bento
anunciasse que se recolheria, sempre haviam visitas que se achavam “porta-vozes”.
Mesmo para ele que sempre foi figura pública, devia ser difícil silenciar.
Novamente, se tem motivo para admirar a paciência, o carinho e a prudência com
que o papa Francisco administrou o que poderia ser um conflito. Como se disse: o
respeito por quem estava “se apagando. À espera da face de Deus”.
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