Também a espanca sem saber
Qual o golpe lhe deu o contorno
imaginado,
Quando se convence de que se tornou
seu criador.
A pedra guardou todas as suas
possibilidades
E muitas foram as batidas que
antecederam
Até chegar, enfim, ao seu desvelar.
O momento em que o cinzelador
Acreditou poder dizer, imitando a
arte: "fala!"
Um longo tempo em que o olhar se
deteve
Sobre o que todos consideravam
elemento bruto
E, ouvindo a respiração da vida,
Que potencializava e inspirava a
arte,
Sentiu a força vital emergindo.
O instante etéreo que esteve
aguardando,
Precisando das mãos humanas e o
sopro Divino,
Em diversos níveis de cumplicidade,
Acariciando a imprecisão da imagem.
Não temendo o tempo que passa.
No entanto, temendo o tempo
perdido,
Que apenas escapa por suas mãos...
Ou o instante em que o cinzel
danifica a pedra
Sendo necessário respirar fundo,
reiniciar,
Com a possibilidade de reduzir a um
material menor.
Uma nova chance de refazer cada
corte,
Recomeçando do que parece ser o
nada,
Mas com as marcas do que já se fez.
A intuição do feitio.
A mesma potencialidade da rocha,
Que ainda não encontrou quem a vai
esculpir,
E conforma-se em aguardar no
silêncio.
A estocada que fere seus veios, onde
está
A esperança de alcançar a
configuração sonhada.
O malho que dá forma ao ferro,
O marceneiro que dá feitio à
madeira,
O oleiro que dá formato ao barro.
Possibilidades de vida que
desabrocham,
Na perfeição do tempo
Até que, finalmente, surja no
Protagonismo de uma cumplicidade.
O medo do desastre somente menor
Do que o receio de não ser
compreendido...
E não entender o que se passou.
Como a lagarta que rasga o sonho.
Vence a dúvida e a dor da espera
Para se transformar em borboleta.
Aspergida por todos os sentidos,
Na superação da angústia da
gestação
E as dores do parto...
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