terça-feira, 16 de março de 2021

Francisco: as dificuldades de uma igreja em saída

Oito anos se passaram desde que o Mundo foi surpreendido pelo anúncio de que era um argentino – idoso e bonachão - o novo papa, naquele 13 de março. A primeira aparição na sacada do Vaticano foi diferente de tudo o que se havia visto: pronto para se aposentar, implicou com os cardeais que, segundo ele, foram ao fim do mundo buscá-lo para transformá-lo em sucessor de Pedro. Os meios de comunicação transmitiram para todos os continentes quando os sorrisos foram se misturando com as lágrimas ao inclinar a cabeça e pedir que os cristãos o abençoassem e rezassem por ele!

Desde o primeiro momento, bateu numa tecla: é preciso formatar uma “igreja em saída”, que definiu e traçou como o melhor jeito de se fazer na exortação apostólica Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho). Infelizmente, também em tempos fora da pandemia, não conseguiu alcançar seus objetivos, mesmo que tenha feito de sua atuação exemplo, como a recente viagem pelo Iraque. Embora o Vaticano tenha uma representação política, sua atuação foi pastoral e humanitária.

Ao sair das acomodações do Vaticano, um senhor octogenário, foi criticado por, algumas vezes, não usar a máscara… ele tem parte de um pulmão e dificuldades para respirar. Mesmo assim, mostrou que se pode, em tempos de crise, ser sinal de esperança, quando se juntam homens e mulheres de boa vontade. Vindos de diferentes credos, concretizam a solidariedade e a justiça, deixando posturas acomodadas e omissas que tem sido o alimento para a ação do radicalismo fundamentalista.

Pontua suas reflexões por momentos fortes da religião. Pediu que se faça memória pelos 150 anos em que São José é considerado Padroeiro Universal da Igreja, com a festa em 19 de março. Na carta apostólica Patris Corde diz: com coração de pai, assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o filho de José» (o filho do carpinteiro)”. O santo que passa despercebido, com a marca da ternura pelo menino e sua mãe e uma fé criativa para que a Sagrada Família sobreviva.

Para o Dia Mundial das Comunicações, em maio, utiliza o evangelho de São João para desafiar: “vem e verás”, afirmando ser necessário “comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. Diferente dos documentos de igreja com linguagem em “teologuês”, conclama a “gastar as solas dos sapatos”, numa crítica direta tanto a jornalistas que se acomodam nas redações, quanto a bispos, padres, religiosos e leigos que preferem ficar ao abrigo das sacristias…

Às vésperas dos seus 85 anos, anda mais devagar… cansado de atividades como referência no cuidado aos desassistidos. Olhando imagens nas ruas do Iraque, não se pode deixar de pensar que por ali passou um homem de Deus! Como Pedro e Paulo, que concretizaram ano testemunho pessoal de uma “igreja em saída”, a lembrança de que os cristãos deixaram uma marca: “vede como eles se amam”. Desafio para o agir social e reagrupar forças para tempos difíceis, que se desenham no horizonte... e mesmo assim, repetir o papa: “não podemos deixar que nos roubem a esperança!”

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