A peregrinação de Francisco pelo Iraque é marco que o diferencia - em seus oito anos de pontificado - das viagens de outros papas, que se dirigiram, especialmente, para centros religiosos, na Europa, América do Sul e África. Mudando a “geopolítica” da Igreja Católica, percorre locais onde os cristãos são minoria (em alguns deles, perseguidos), como Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Japão e Coreia do Sul. O pontífice deu provas de que é um pastor por excelência, não descuidando dos lugares onde o cristianismo é ameaçado, assim como de viabilizar o ecumenismo.
Depois das recepções protocolares, tanto por autoridades do país, como representações da própria Igreja Católica, fez questão de dar um sinal para o Mundo: reuniu-se com líderes islâmicos na região de Ur (província de Dhi Qar), onde supostamente nasceu Abraão, que é tido como o pai das três principais religiões monoteístas da história (judaísmo, cristianismo e islamismo). Junto ao que teria sido a casa do patriarca bíblico, fez a “oração dos filhos de Abraão”, quando pediu: “ajudai-nos a cuidar da terra, a casa comum que, na vossa bondade e generosidade, destes a todos nós”.
Antes de embarcar, fez um apelo ao povo iraquiano e da região: “venho como peregrino penitente, para implorar perdão e reconciliação do Senhor depois de anos de guerra e terrorismo, para pedir a Deus consolo para os corações e cura para as feridas. E venho até vocês como peregrino de paz... pelo desejo de rezar juntos e caminhar juntos, também com irmãos e irmãs de outras tradições religiosas, unidos pelo pai Abraão, que reúne em uma só família muçulmanos, judeus e cristãos”.
Foi recebido pelo presidente Barham Qassim e apelou: “venho como penitente que pede perdão ao Céu e aos irmãos por tanta destruição e crueldade. Venho como peregrino de paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz. Quanto rezamos ao longo destes anos pela paz no Iraque! São João Paulo II não poupou iniciativas, e sobretudo ofereceu súplicas e sofrimentos por isso. E Deus escuta; escuta sempre! Cabe a nós ouvi-Lo. Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte!”
Um dos momentos mais esperados foi o encontro com o líder xiita, aiatolá Ali al-Sistani, costurada por pessoas, de ambos os lados, que desejam fazer vingar o ecumenismo. Afirmou: “hostilidade, extremismo e violência não nascem dum ânimo religioso: são traições da religião. E nós, crentes, não podemos ficar calados, quando o terrorismo abusa da religião. Antes, cabe a nós dissipar com clareza os mal-entendidos. Não permitamos que a luz do Céu seja ocultada pelas nuvens do ódio!”
Francisco é homem de visão. Sabe que a pandemia vai longe, especialmente em países pobres, e deixa no rastro o aumento da miséria e de migrantes. Como consequência, escalada da violência, alimentada por fundamentalistas, inclusive cristãos. É profeta: aponta o erro que mistura economia e poder, com religião – falsos deuses, com seus falsos pastores... Empunha a cruz e conclama: “calem-se as armas”, o perigo está próximo se faltar o sentimento de que se pode ser “construtores e artífices da paz”. Momento único para resgatar o nosso sentimento de pertença à humanidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário