Quando morei no Seminário, uma das rotas até em casa passava pela clínica Olivé Leite. A frente era isolada, mas nossos dormitórios davam para os fundos, onde ficavam os pacientes que precisavam de maior controle. Anestesiados no início da noite, pela madrugada, quando o efeito da medicação passava, virava um coro da demência, com gritos, cantos, uivos… O que fazia minha passagem mais curta para economizar as pernas ser, também, a mais rápida, porque acelerava ao cruzar em frente e me sentia aliviado quando enxergava as hortas e um galpão que já não existe…
Foi do que lembrei ao organizar as participações na live Partilhando da semana passada, quando frei Alfredo Souza refletiu sobre como tocar a vida em tempos de pandemia. Pouco antes, passara roteiro com temáticas interessantes, começando por mostrar que se vive tempo de vulnerabilidade, quando as restrições geram emoções desencontradas, até mesmo pelo fenômeno da infodemia (informações que fazem mais mal do que bem). Situações do passado, mesmo que não se soubesse o nome – estresse, ansiedade e depressão – fizeram parte do roteiro discutido e questionado.
Em situação de crise, o pior é encerrar-se em si mesmo. O grito de socorro que fica preso na garganta necessita de lugar e de alguém em condições com quem se possa compartilhar. E pessoas próximas precisam estar atentas aos sinais de que há sentimentos sufocados que vão asfixiando emoções e causando transtornos. Depois de um ano de coronavírus, a preocupação continua sendo com salvar vidas, tratando as sequelas que ficam... Com toda a razão, porque as disputas políticas estão colocando em risco nossos bens mais preciosos - a vida e as pessoas que amamos.
Quando as batalhas terminarem e começarem a chegar os trôpegos, feridos, sequelados, vamos precisar da disposição de religiosos, profissionais da saúde, da psicologia, do entretenimento para recuperar traumas e transtornos que ficam e marcam as próximas gerações. A terapia sugerida passa pela redescoberta das relações próximas. Frei Alfredo brincava que o grupo familiar poderia, até, afastar os móveis da sala, tocar uma música e dançar. Porquê não? Tem momentos em que cantar no banheiro ou bailar com a vassoura dá, sim, sinal de que a sanidade mental persiste.
Entre “loucos” do passado e “loucuras” do presente, há uma diferença: os novos tratamentos. As perguntas vinham com o detalhe da utilização de medicações para controlar o estresse, a ansiedade e a depressão. Um avanço, quando usadas sob prescrição médica. Conviver com o luto, a perda, cuidar de pessoa com marcas físicas e psicológicas é onde a crise mostra ser necessário mudar o modelo político, relações sociais, afetivas e familiares. Tristezas e alegrias vividas dão uma certeza: a terapia de que se precisa, hoje, é aquela que não deixa perder o sentido da vida e da esperança…
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