domingo, 14 de março de 2021

Maricás, alamedas e caminhos...

Minhas caminhadas, pela manhã, têm, sempre, os mesmos percursos: saio de casa em direção da avenida Francisco Carúccio, passando por região que, pouco distante do centro da cidade, guarda um quê de rural - lugar de banhado, com árvores ralas, onde é solto o gado; ou, em direção da avenida Fernando Osório, sem chegar até lá, passando ao lado da Unimed, até os fundos do Engenho São Paulo – Ferro & Fogo, galpões onde se encontrava de tudo, mas também, um bom passeio para desestressar e ver desde potes com bolinhas de gude, até equipamentos para carroças…

A terceira via contorna o que vai ser o bairro Quartier, que já tem boa parte de suas ruas calçadas, permitindo que se aventure em áreas que estavam escondidas do público e agora revelam o que já contei: laguinho formado pela retirada de barro para tijolos e telhas e uma das chaminés das antigas Olarias Carúccio. Em janeiro e fevereiro, a surpresa foi se formando na beira da sanga que corta a região norte, correndo paralela aos antigos trilhos da viação férrea: dos poucos lugares onde os maricás são abundantes e a sua floração formou um tapete de flores brancas por sobre a paisagem.

Numa manhã de sábado, parei na parte mais alta, de onde se divisa o espetáculo por longa distância. Me veio à memória os maricás que existiam em toda a extensão da minha rua, desde a entrada do sítio dos portugueses, até a outra sanga, que agora está canalizada, ao lado do condomínio Granada. Estava com 11 anos, era manhã de domingo e a primeira vez que voltei do Seminário Diocesano, onde fazia duas semanas que estudava. Parei à sua sombra para enxugar as lágrimas e respirar fundo. Sabia que minha mãe não deixaria eu voltar se me visse com os olhos molhados…

Mas queria voltar e foi o suficiente pegar aquele arzinho bom, no início de março, aspirar o perfume que ainda restava e lembrar de quando correra por ali para caçar violinhas, colocar em caixas de fósforo e “ouvir música”. Ou, nas noites quentes de verão, prender vaga-lumes em vidros cobertos por um pedaço de tecido, para ter uma “lanterna”… Depois, quando meus pais envelheceram, observar da janela, todas as manhãs, caminharem devagarinho, embaixo das sombras, com as mãos cruzadas às costas e parando, aqui e ali, para atualizar as conversas com os vizinhos…

Devo ter falado sozinho, porque, apesar da máscara, pessoa que passava se voltou, esperando que repetisse. Não disse, não era o caso. Dei-me conta do porque gosto de caminhar, já que não tenho persistência para fazer outros tipos de exercícios. Para confirmar, o único que faço, quando não vou para as ruas, é o simulador de caminhada. Mesmo assim, preciso do tablet para procurar na internet programas de viagens por diversos lugares do Mundo. E o que me encanta? As ruas. Percursos que os apresentadores fazem por vielas, estradas, caminhos, praças, parques, museus…

Maricás, alamedas e caminhos… Aplicativos e o YouTube já mostram roteiros (Porto Alegre já tem. Pelotas, que eu saiba, ainda não). Mesmo lugares por onde se andou surpreendem. Pode ser uma passada nas proximidades de um ninho de quero-quero, quando, sentindo-se ameaçados, se alvoroçam e dão voos rasantes… aproveitar o sol e sentir-se vivo e em paz, razão maior de uma esticada nas pernas. Dado o primeiro passo, como na vida, há um destino a percorrer, porém, aqui - ou na Eternidade - há sempre um lugar para se voltar e sentir que, cada passo, de fato, valeu a pena!

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