Artigo já publicado em 1994.
É uma pena que os pesquisadores tenham achado e recuperado, ao sul da França, os destroços do avião de Saint-Exupéry, o escritor que é o pai do Pequeno Príncipe. Ainda bem que não encontraram seu corpo, ou o que dele deve ter sobrado, já que ficou submerso desde julho de 1944 - cerca de 60 anos - quando o piloto francês deixou a Córsega para uma missão de reconhecimento da mobilização das tropas alemãs, em continente europeu.
Na verdade, verdade pura, que é a verdade da imaginação, sempre acreditei que, num determinado momento, antes do final, o Pequeno Príncipe (aquele que caiu na Terra, encontrou um aviador e procurava um amigo) apareceu junto ao ombro de Saint-Exupéry, expiou para fora e, vendo a tempestade que se aproximava, disse: “Tens certeza que não queres voltar comigo para o meu planeta?” O aviador sorriu e perguntou se ele tinha uma outra rosa em seu pequeno mundo. Entre perplexo e surpreso, o garoto disse: “É bem possível que sim. Faz tanto tempo que estou longe de casa!”
E partiram. Mergulhando nas águas do Mediterrâneo, procurando uma tumba silenciosa e o melhor caminho para retornar ao pequeno planeta que, até hoje, os astrônomos teimam em procurar entre as diversas constelações. Esquecem da máxima com que Saint Exupéry encerra sua obra maior que é o Pequeno Principe: “E gosto, à noite, de escutar estrelas. É como ouvir quinhentos milhões de guizos...”
Aí, exatamente, reside a única orientação astronômica dada pelo Pequeno Príncipe, recebida na conversa que teve com a sua amiga raposa: “só se vê bem com o coração”. E dá um desfecho capaz de sensibilizar até os mais céticos: “O essencial é invisível aos olhos”.
Então, já não há outro caminho que não seja o de dar valor aos pequenos grandes prazeres da vida. Podemos encontrar a beleza da obra deste aviador, que viveu tão intensamente seus 44 anos, quando nos damos conta que o sentido maior do viver está em encontrar prazer nas coisas simples: como uma rosa que se cultiva, uma amizade que mostra sua cumplicidade até no olhar, a possibilidade de poder olhar para as estrelas Ou, quem sabe, um carneiro que se precisa cuidar para que não coma a única rosa existente no planeta.
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