Da série "Crônica de uma saudade":
O garoto sentou-se ao lado do rapaz:
- Dê esta rosa pra aquela moça!
Tão concentrado estava o rapaz que levou um susto quando ouviu seu pensamento na boca daquele menino.
- Que isto, garoto, tá me estranhando. Onde tu roubou esta rosa?
Olhar sério e reprimenda contida na voz:
- Não roubei, não, ela caiu de um monte de flores que aquele pessoal levava pra igreja.
Sem querer perder a compostura, o rapaz ainda provocou:
- Mesmo assim, porque eu iria dar uma rosa pra aquela moça?
Riso maroto, olhar de malícia:
- Porque você tá aí, babando! Faz tempos que não para de olhar pra ela.
Rubor adolescente de puro êxtase, baixando o olhar:
- Bobagem, eu nem ia saber o que dizer pra ela!
Cumplicidade disposta a ser parceria:
- Não diz nada, apenas entrega a rosa.
Olhar entre desconfiado e disposição para ao menos tentar:
- Tu achas?
Dez anos, olhar de absoluta certeza:
- Vai por mim.
Ambos levantaram, enquanto o menino ia embora, o rapaz chegava na moça, que sorriu, acariciou a rosa e o convidou para sentar ao seu lado. Já saindo da praça, o menino sorriu para a aragem que vinha chegando ao vilarejo e que dava uma sensação boa de aconchego e de que a vida valia a pena em pequenas coisas: até numa rosa partilhada.
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