Sempre tínhamos que auxiliá-la a sair da cama, passando pela mesinha de cabeceira e chegando até a cadeira da mamãe, praticamente com o uso da nossa força. Dia destes, enquanto terminava de arrumar seu almoço, ouvi barulho e, quando cheguei à porta, já tinha saído da cama e passado, sozinha, para a poltrona, com um sorriso maroto de vitória no rosto.
A alimentação tem sido muito pouca, às vezes, praticamente, nada. Quando acha que colocamos a mais, seleciona e come o que lhe agrada, junta o resto num cantinho e cobre com um lencinho de papel. Com certeza, escondido de tal forma, nem o mais competente detetive vai descobrir!
Embora as pernas não ajudem felizmente a mente continua afiada, tanto para as lembranças, que, muitas vezes, não vêm para nós, mais jovens, assim como o senso do deboche e de falar mal quando julga necessário.
Quando partilho destas experiências, vejo que o gênero humano é o mesmo, sempre. Com pequenas nuances, quem convive com idosos, sabe que eles farão algo muito parecido. Mas cada um tem as suas marcas, que acabam sensibilizando e nos convencendo de que vale a pena lutar enquanto existe ao menos um tênue resquício de vida.
Acabamos fazendo uma agenda não convencional: as aulas do dia a dia, as bancas de trabalhos de conclusão de curso, o trabalho em escolas, ainda são complementadas por atividades que tornam a rotina necessária e a capacidade de aprender contínua, em momentos de dor, em momentos de alegria, ou apenas em pequenas, mas incríveis pequenas conquistas.
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