terça-feira, 5 de março de 2024

Para degustar entre lágrimas e risos...

Postei em textos meu vício por produções asiáticas que podem ser chamadas de doramas (Japão) ou k-drama (Coréia do Sul). Além dos seriados e filmes coreanos, há uma vasta gama chinesa, da Nova Zelândia, Filipinas, Taiwan e Japão. Deste último, chama a atenção o primor da fotografia, com planos abertos e cenas lentas, bastante diferentes das novelas de ação e romance ocidental, por exemplo. Foi onde encontrei “Restaurant from the Sky”. Daquelas pérolas que se precisa garimpar... E saborear!

Wataru e Kotoe são fazendeiros na zona rural do Japão. A chegada da esposa é sob nevasca, em busca de emprego. Ao receber a primeira xícara de leite quente também recebe a proposta de casamento. Dali em diante, as estações do ano acompanham o casal, especialmente, com o nascimento da filha. O sonho do marido é fazer queijos, mesmo quando os negócios não vão bem. Mas não falta o espírito de que são a primeira célula, parceiros nos trabalhos e no convívio social, especialmente nas feiras da vila.


O ânimo se mantém pela amizade com a comunidade local, que inclui um criador de cabras, um queijeiro e sua esposa, artista e professora; um agricultor que procura por OVNIs; um produtor rural que investe em comida natural e um chef de cozinha em busca novas experiências. Revelam suas fragilidades, mas não permitem que elas os façam desistir da amizade. O chef coloca o horizonte dos amigos de cabeça para baixo ao propor fazer, ali, no fim do mundo, a refeição que emociona e se torna inesquecível!

Os encontros e desencontros são pontuados, como na vida real, pelos pequenos detalhes do dia-a-dia. O queijeiro morre sem dizer ao aprendiz (Wataru) o que este esperava: a excelência da sua produção. Senhor idoso, perguntado: “me ensina a fazer o seu queijo?”, fala com a experiência de vida: “você precisa fazer não o meu queijo, mas o seu queijo”. Um agregador silencioso reconhecido quando se dão conta do que dizia da amizade dos cinco homens: “nos repreendia por agirmos como crianças o tempo todo!”

Quando, enfim, concretizam o sonho da “refeição inesquecível”, despertam para o fato de que a vida é ação entre amigos que se cultiva, especialmente ao se degustar o que se ama: “leite é o amor materno. O queijo também é cheio de amor”, diz a personagem. A gastronomia se mistura com a história e a vida de cada um daqueles que se redescobrem capazes de vencer medos e limites apoiados pelo grupo. A suposta “loucura” do chef encontrou, naquela troupe, “loucos” dispostos a vivenciarem uma aventura.

Juntos, num “churrasco” de batatas e frutos do mar, tecem sonhos e se divertem com a inocência do último a chegar ao grupo, o criador de cabras. A pureza transparece num daqueles filmes que brincam com a alma da gente. “Levinho”, a imaginação sente o gosto de uma caneca de leite, um pedaço de queijo, uma mesa com a família, amigos e vizinhos... Para se degustar entre lágrimas e risos, quando a vida propicia os ingredientes não apenas para aprender a fazer, mas a saborear todos os seus prazeres!

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