Era um garoto com cara de gente velha... Passou por mim de bicicleta na avenida Francisco Caruccio, quase na ponte da sanga das Três Vendas (ainda se diz assim?). Parecia cansado e vacilou ao descer da bicicleta. Estava próximo e, instintivamente, estendi o braço para apoiá-lo. Não foi preciso, sorriu e perguntou se eu morava por ali. Estávamos no início do bairro Quinta do Lago. Disse que sim. A pergunta seguinte foi se haviam obras na área. Contei que passava por muitas nas minhas caminhadas.
Foi quando veio a surpresa: “queria entregar
currículos”. Vinha de longe, tomara café cedo, e soubera de muitas casas sendo
construídas. Contei que sim, já calculara cerca de 30 residências em diferentes
estágios. De onde estávamos dava para ver ao menos em torno de dez obras.
Pareceu mais animado. Tinha uma pasta na mão e ficou próximo da ponte arrumando
alguma coisa na bicicleta. O enxerguei de longe, tomando o rumo das casas em
que avistava pedreiros trabalhando, com muitos rapazes como auxiliares.
A filha de uma amiga contou que já conhece cada um
dos atendentes dos serviços de busca por trabalho na cidade. A última vez foi a
que lhe deu mais esperança. Preenchia todos os requisitos. Marcou entrevista e
se encaminhou para a empresa de consultoria. Não foi considerada
suficientemente qualificada. “Faltava-lhe experiência”. Experiência que não tem
como conseguir se alguém não lhe der uma oportunidade. Seus estágios na
universidade não eram suficientes. Teve que voltar para a fila de emprego...
O jovem pai de família ficou desempregado durante a pandemia e procurou de todas as formas nova ocupação. Tivera salários bons, até que a última empresa reduziu o número de contratados. “Bem acostumado” (acho errado dizer que se fica “mal acostumado”), procurava algo do mesmo nível. Mas foi preciso, primeiro, “limpar” seu currículo, porque sempre diziam que era “qualificado demais”. Depois, aceitar salário menor do que o que tivera, com carga horária maior se quisesse continuar a pagar suas contas.
Matutei a respeito do rapaz que entregava currículo
para trabalhar como auxiliar de pedreiro. Num tempo em que cerca de sete
milhões de jovens brasileiros não estudam e sequer trabalham. Minhas lembranças são de quando garotos
pobres conseguiam “bico” em serviços gerais, aprendendo a lidar com uma obra. Era
assim no comércio e na indústria. Aprendizado que rendia o primeiro salário,
auxiliar a família, estudar e ter algum dinheiro para a diversão com o futebol,
bailinhos, encontros com as turmas...
A procura desorientada é “saltar” etapas da vida. Já
é difícil viver a sequência. Triste quando se perde uma das mais bonitas, a
juventude. Motivo de ser necessário que se tenha um bom lugar para amadurecer, na
família e na escola. Políticas governamentais precisam garantir ocupação,
orientação e, até, alimentação, de preferência em dois turnos, para não serem
jogados no mundo do subemprego. Vale repetir: educação não é gasto, é
investimento. O que está em jogo é muito sério: o futuro da própria
sociedade...