Já disse aqui que parcela da sociedade faz o possível e o impossível para suprir carências/ausências das instituições públicas. Além de mobilizarem para doações, ainda vão à luta e, por entidades ou igrejas, fazem autênticos mutirões para minimizar este sofrimento com cestas básicas, marmitas, sopões, cafés da manhã e da noite... Sabendo que esta deveria ser a tarefa de prefeituras, governo estadual e federal que deveriam movimentar a máquina pública exatamente para que as populações mais carentes fossem assistidas e resgatadas de situações precárias, a tal de “segurança alimentar”.
Expressões acadêmicas/sociológicas distanciam a realidade das teorias, tratam um problema real como se fosse apenas análise de conjuntura. Nas periferias e ruas o que se testemunha é diferente do que se fala em gabinetes. A necessidade de ação imediata pois, enquanto um brasileiro se encolher com frio embaixo de uma marquise; a dor da fome der o tom de miséria de quem já cansou de lutar; alguém mendigar pelo direito à saúde, moradia, emprego e segurança; ninguém, repito, NINGUÉM tem o direito de auferir salários que coloque em risco o atendimento às demandas sociais.
O Brasil da fome foi mapeado pelo Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 e mostrou que 33,1 milhões de pessoas não conseguem o pão nosso de cada dia. Soma-se à queda na renda do brasileiro, o aumento do número de quem está nas ruas, ao fato de que 72% da população foi impactada pela inflação que alguns teimam em negar (mas que está presente no dia a dia das compras dos comuns dos mortais) e às sacanagens como a chamada “reduflação”, uma maquiagem pela redução do tamanho dos produtos, mantendo os mesmos preços.
Os dados são incontestáveis. Conhecido questionou por redes sociais se eu era um “vermelho” que ataca o governo. Sim, sou “vermelho”. Continuo sendo colorado (torcedor do Internacional), preocupado com governantes de plantão e seus desmandos. Incapazes de dar aos brasileiros o que merecem num país onde, há décadas, ouço ter as potencialidades de ser um celeiro da humanidade, sem que seja capaz de atender minimamente seus cidadãos. Como formador de opinião, uma das minhas responsabilidades é auxiliar as pessoas a criarem consciência da realidade em que vivem.
Em matéria que tratou a respeito, a mãe que lutava em meio às sobras deixadas pelos comerciantes no centro de distribuição de alimentos para o comércio disse que, mesmo ali, em muitos dias, não havia o que aproveitar. Quando as crianças pediam algo à noite para comer, com a mais nova no colo e um resto que lhe sobrara de um pão, apenas murmurava: “dorme que a fome passa...” Na esperança de que o amanhã sensibilize os corações de quem pode – e deve – participar de uma cruzada que não dê apenas uma esmola, mas recupere a dignidade de um prato de comida!
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