A mesma configuração do rosto é que tornava cada uma delas especiais por serem, literalmente, a “mãe da mãe” (ou do pai), com o carinho tão ao jeito de quem sente a ausência e quer compensar com sorrisos que acentuavam suas expressões. Provindo da imersão dos olhos, sinal de bondade, de acolhida, da mulher roceira que enxugava as mãos no avental e ajeitava os cabelos já presos num coque para nos receber num abraço. Pequenas em altura, mostravam-se gigantes em querer saber de tudo e de todos, já com o olhar atento ao fogão de lenha, pensando no que fariam para agradar.
Foi do que lembrei ao ouvir o papa falar na catequese da semana passada, ao citar a atriz Anna Magnani, que, comentando processos que retardam o envelhecimento, não “queria que suas rugas fossem tocadas, já que havia levado uma vida inteira para tê-las”. Francisco, um idoso de 85 anos, mostrou na reflexão que nossa cultura tem a tendência preocupante “para considerar o nascimento de um filho como uma simples questão de produção e reprodução biológica do ser humano e cultivam então o mito da juventude eterna com a obsessão desesperada da carne incorruptível”.
Uma frase marcante foi “a vida em nossa carne mortal é uma belíssima obra inacabada, como algumas obras de arte que, apesar de incompletas, possuem um fascínio único”. E argumenta que “a nossa vida aqui na terra é iniciação, e não consumação. A fé, que acolhe o anúncio evangélico do reino de Deus ao qual estamos destinados, nos torna capazes de ver os sinais de esperança nesta nova vida. A velhice é a condição na qual o milagre do nascimento do alto pode ser assimilado intimamente e tornar-se sinal de credibilidade para a humanidade”.
Para o homem e a mulher de fé, a velhice, agora prolongada, mas não qualificada, tem uma beleza única. O papa diz: “caminhamos rumo ao Eterno. Ninguém pode voltar a entrar no ventre da mãe, nem no seu substituto tecnológico e consumista. Isso seria triste, mesmo que fosse possível. O velho caminha para a frente, em direção ao destino, rumo ao céu de Deus. A velhice, por conseguinte, é um tempo especial para dissolver o futuro da ilusão tecnocrática de uma sobrevivência biológica e robótica, sobretudo porque se abre à ternura do útero criador e gerador de Deus.”
Chamou a atenção para “a ternura dos idosos”, especialmente quando se relacionam com os netos. Ajudam a compreender a própria ternura de Deus: “Deus é assim, sabe acariciar”. Convocou idosos a serem “mensageiros da ternura, da sabedoria de uma vida vivida… vamos em frente, olhemos para os idosos!” Assim como os próprios idosos, olhem para si. Peçam e se deem o respeito que merecem os cabelos brancos (ou embranquecendo) e as rugas que testemunham uma existência. As rugas das minhas avós, as minhas rugas, as rugas do papa, as suas rugas precisam de um sentido. Envelhecer com dignidade é se tornar o rosto de Deus diante de uma sociedade carente de ternura!
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