domingo, 5 de junho de 2022

O tempo, as almas antigas e o rumo do Universo

Você já ouviu falar em “almas antigas” (ou “almas velhas”)? Há várias definições para a expressão, em vários credos. Creio que o mais importante é que seriam pessoas diferenciadas, com um nível de maturidade superior, inteligentes, com sensibilidade especial, intuitivas e, aí começo a prestar atenção: “parecem não se encaixar no seu tempo”. A origem seria no Taoismo, sistema filosófico e religioso chinês com mais de 5.000 anos. A alma deixa o Tao, unidade global e natural, para adquirir experiências. E precisa retornar à sua raiz, enriquecida por suas passagens pela Terra.

Dos seus cinco estágios, as “almas antigas” estariam no último, já mais espiritualizadas e preocupadas em encontrar o seu lugar no Mundo. Com a consciência de que fazem parte de algo maior, de um todo que supera as etapas anteriores. Seu principal objetivo seria a satisfação interna, na busca pela paz. Demonstram um alto grau de maturidade, são capazes de desfrutar de solidão e introspecção, alcançam um sentido mais espiritual da existência, conseguem um instinto muito desenvolvido e, por fim, são capazes de demonstrar um alto nível de empatia e sensibilidade.

Mas o amadurecimento não é fácil. Nem tudo é um mar de rosas… O seu desenvolvimento encontra alguns efeitos que podem ser considerados indesejados. Como o fato de não se encaixarem nos interesses daqueles que são da sua idade e se interessarem pela amizade de pessoas mais velhas; uma desconexão com o Mundo, já que não são muitas as pessoas neste estágio com capacidade de convívio; problemas com a autoestima (e muitas vezes até depressão), pois geralmente se medem com um padrão moral estrito e, às vezes, se sentem atormentadas por suas deficiências e erros.

Comecei a me interessar quando uma amiga (a quem respeito muito) disse como se sentia nos tempos atuais: “fora da casinha”. Foi a expressão que usou para explicar que percorreu um túnel do tempo por onde reencontrou e se informou sobre muitas das coisas acontecidas em décadas passadas e se sentiu fora do contexto atual. Para os da minha idade ou próxima (hoje, chego aos 67 anos), não é difícil que se sintam assim. Até porque somos de um tempo, pela metade do século passado, em que sequer se pensava em chegar aos anos 2.000. Quanto mais, ultrapassar em 22 anos!

Não sei se é uma questão metafísica ou psicológica. Creio que vou encontrar explicações para estes fenômenos nas duas áreas. Em qualquer dos contextos das relações sociais, encontram-se pessoas que parecem deslocadas destes tempos. Não é somente por aquela história dos filmes, quando demonstram um comportamento diferente e até no que vestem se diferenciam. Mas por terem uma “luz” que ultrapassa o senso comum, irradiando confiança, em todos os sentidos, com a capacidade de dizer o que for necessário sem criar atritos e atraírem pela forma como são acolhedoras.

Nesta etapa da vida, não creio que me encaixe nas definições que resumi da Internet, ao iniciar este texto. Mas um pouco de maturidade, com uma dose de sensibilidade e a vontade de ficar por mais tempo em silêncio tornam mais fácil envelhecer o corpo e, porque não, “envelhecer” a alma… Não é uma questão de decrepitude, com a sensação de que já se está mais perto do fim do que do começo. Existe um tempo de voltar, com a sensação de que não apenas se deixou a vida passar, mas a consciência de que se andou pelo Mundo como quem encontra um sentido no rumo do Universo…

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