Quando criança, já na periferia de Pelotas, não havia o que fazer nas noites de verão, a não ser fugir dos mosquitos. Porém, quando a mãe não estava cansada, agrupávamos no pátio para perguntas. A lua tinha diversas interpretações. Uma delas era a da imagem de Nossa Senhora embalando o menino Jesus. Na outra, era apenas uma mulher, que a dona França dizia ser a tia Ester, que chamávamos de “Tetéia”. Quando a lua era plena e a gente vivia a inocência de um sentimento que não sabia nomear (saudade) aprendemos a olhar para ela, balançar os lábios e dizer: “lá, Tetéia!”
Não havia – e acho que nunca tive – a necessidade de buscar explicação para o desfile de astros e estrelas que marcam as noites. Assim como sempre me encantaram o vento ou a formação das nuvens. Uma sofisticada engrenagem que faz o ritmo do Universo, à distância, parecendo ser a moldura para que se entenda o ritmo da vida, especialmente de um idoso. Ao se saber que elas também nascem e morrem, o olhar que alcança a distância possível tem que se contentar que estamos longe de qualquer fronteira, “beiradas”, limites que enquadrem a própria imaginação.
Todas as noites, o Cosmo espia preguiçosamente das alturas. O primeiro luzeiro que aparece no horizonte; a Lua, astros e estrelas que varrem a noite e os sonhos; a derradeira estrela que espera a chegada de um novo dia. Não importa o nosso tamanho e se teremos condições de percorrer as vias interplanetárias. De algum lugar, outros olham para a Terra e também se encantam. A humanidade ainda é uma criança diante da história do que, pra nós, é o firmamento. E tem muito o que aprender para mirar os céus sem esquecer da beleza que é cuidar do próprio homem e da casa comum.
O manto que existe por sobre as nossas cabeças induz a pensar que a fé leve a um Ser que tenha imaginado tudo o que o homem já descobriu e ainda possibilita que amplie seus horizontes. Precisando ter humildade para delimitar o razoável, permitindo que a humanidade desfrute de cada partícula que a energiza e, um dia, cobra o retorno. Há uma essência que faz a sintonia com aquilo que se traz, para além da vida e da morte: a alma, o espírito, que não adquire rugas na sua passagem pelo corpo presente, mas que testemunha a luta por um sentido que supere o próprio fim.
Então, se tiver oportunidade, à noite, tome o rumo do lugar onde encontres uma nesga de céu. Se estiver nublado, pode te surpreender com um rasgo onde apareça a lua. Quem sabe, contemples as estrelas e, ao segui-las, ela apareça em sua majestade. Se fores jovem, te encantaras com o desfio da imensidão. Se a idade já marcar teus passos, descobrirás que o silêncio do Universo mostra o teu destino: a própria finitude, o desafio da Vida por um sentido do que é maior… Somos poeira das estrelas, onde os risos têm gosto de possibilidades que teimam em existir em nossas utopias…
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