terça-feira, 3 de maio de 2022

O descrédito das eleições e o que resta da esperança

Analistas de política internacional atentaram, nos últimos dias, ao que aconteceu na França, onde o presidente Macron venceu, no segundo turno, Marine Le Pen. Destacaram o crescimento da direita naquele país e chamaram a atenção para os índices de abstenção: cerca de 28% dos eleitores preferiram ficar em casa e não participar do pleito. Lá, o voto é facultativo, mas se pode comparar com o Brasil, onde, nas eleições presidenciais de 2018, o voto era obrigatório e, mesmo assim, 9,5% optaram por votar em branco ou anular e 21,30% preferiram não comparecer às urnas.

Também, recentemente, os meios de comunicação publicaram em massa campanha chamando os jovens para – aí sim, de forma facultativa – exercer um dos seus direitos de cidadão, o do voto. Artistas e exponentes esportivos foram mobilizados para repassar mensagens incentivando cadastro daqueles que estão entre os 16 e 18 anos. Depois de um período em que se vaticinava que seria uma das eleições com menor presença de jovens nesta faixa, houve uma reversão e, entre janeiro e março deste ano, mais de um milhão de novos eleitores se cadastraram.

Então, qual é o problema? O descrédito para com o legislativo e executivo, que já eram obrigados a serem eleitos, e se percebe que o judiciário esqueceu de ser o guardião da Constituição para prender ladrão de galinha e isentar criminosos do colarinho branco. O cinismo com que se utilizam recursos públicos em benefício próprio transformou o processo democrático na caixa de laranjas de onde se pensou que, retiradas as frutas podres, as demais não se contaminariam. Engano, a caixa apodreceu e abriga mazelas que, ao contrário, mesmo as frutas boas não conseguem reverter o processo…

Mal-informados dizem que “são coisas da democracia”. Não acredite. A democracia é um conjunto de princípios baseados na liberdade, responsabilidade e respeito ao direito alheio. Toda a vez que alguém se traveste de democrata para usufruir benefícios está usando de má fé. Semelhante ao processo religioso. As religiões, em princípio, todas são boas. O problema está nos “religiosos” que, antes de colocar-se a serviço do povo de Deus, colocam “deus” e o povo ao seu serviço. Inversão de valores sedimentada, tanto na religião quanto na política, nas últimas décadas, no Brasil.

São muitos os problemas que confundem a cabeça do eleitor. Grande parte da população é simples e, em muitos casos, quem fala mais alto ou repete “verdades” ganha seguidores. Isto não é consciência política. Infelizmente, estamos indo para um pleito polarizado em que a preocupação não é com as propostas eleitorais, mas o candidato de quem gosto, o “político de estimação”. Tendo resultados difíceis de serem previstos, veem-se apostas que podem ser um tiro no próprio pé, com atenção voltada não tanto para a intenção de voto, mas para os altos índices de rejeição.

O problema não é do sistema democrático, mas de quem o deturpa. Ruim com a democracia, pior sem ela. Não faltam discursos em defesa de regimes de exceção onde grupos de iluminados ditam o que a maioria deve fazer. Agridem quem pensa e conscientiza a população tentando identificá-los com um ou outro grupo radical. O formador de opinião não joga gasolina na fogueira e sequer incentiva a paz dos túmulos apodrecidos. O voto é exercício de cidadania. Pense e converse com amigos e familiares que aceitem dialogar. Depois, é entregar a esperança no resultado das urnas…

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