Os últimos aniversários da mãe eram discretos, com a presença dos familiares que ainda moram em Pelotas e de algumas de suas amigas. Fazíamos questão de ter alguma coisa especial para que recebesse as pessoas para um café da tarde e, à noitinha, quando os netos voltavam do trabalho. Foram ficando algumas fotos marcantes, porque demonstram o quanto foi se fragilizando, falando pouco, mas sem perder o sorriso e, em alguns momentos, o olhar atento para os bisnetos que davam uma nova energia, no caso do Miguel, filho da Daniele, que já chegava gritando pela “bisa”.
O Valdemar faleceu cedo. Mas a sua casa era o lugar preferido do pai e da mãe de saírem para um passeio e tirarem uma tarde, tomando café e chimarrão. Quando já não se sentiam com coragem para irem a pé ou de ônibus, os levava e, muitas vezes, acabava também participando do autêntico “fristique”, em que a mesa posta não era apenas um café da tarde, mas uma refeição que poderia valer, também, pela janta. Depois, fazia questão de mostrar a horta e o arvoredo que conservavam em família. O que era do conhecimento do pai e dele, pra mim era uma imensa curiosidade.
As meninas, hoje, já estão com mais de 20 anos. Da Alessa, filha da Vânia, lembro de ocasiões em que saiu comigo e conversamos sobre a história de Pelotas. Na vez seguinte, bem ao seu jeito, entrou no carro e disse: “continua”. Fiquei fazendo contas de cabeça para saber do que estava falando. Refrescada a memória eram os causos a respeito, especialmente, do corredor das tropas que existia ligando a avenida 25 de Julho, Salgado Filho e São Francisco, por onde passava o gado que abastecia a cidade. Também sobre a construção e, especialmente, as pinturas da Catedral Católica.
A Amanda foi nossa companheira nos seus primeiros anos. Vinham com frequência, mas a gente lembra sempre do seu nascimento e dificuldades que tinha para respirar. Num Inverno úmido, ficou na unidade de tratamento intensivo. Minha sobrinha Vanessa, a mãe, ficava no hospital na visita do dia e eu voltava das aulas à noite e ficava durante algum tempo com ela entubada no colo, olhinhos atentos e achando que era uma judiaria que uma criança passasse por aquilo. Foi do que lembrei ao ver, durante a pandemia, ela chegando à sua formatura em Florianópolis, onde a família reside.
Domingo, depois de três anos da morte da mãe, reuniremos a família e vamos comemorar a vida de quem está aqui, fazendo memória dos que partiram. Num pequeno mural, estarão as fotos de cada um. A celebração da vida é, mais do que um momento de festa, o reconhecimento das marcas que se recebeu de quem partiu antes. Do seu jeito, lutaram para que não se desistisse e se encontrasse um jeito de ser feliz. O mesmo legado que se faz num encontro, num abraço, num beijo, num olhar carinhoso que não substitui, mas compensa perdas e ausências e valoriza a presença e os encontros.
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