Foi no que pensei vendo imagens recentes do papa Francisco, aos 85 anos, com problemas nas juntas (lembro minha irmã, Leonice, que diz: “junta, junta tudo e bota fora!”), uma inflamação nos joelhos, fazendo infiltrações. Tudo se torna difícil: caminhar, quase impossível; levantar de uma cadeira, um esforço descomunal. Com agenda congestionada, precisou cancelar compromissos. Mas deu para perceber nas vezes em que atendeu fiéis e religiosos que mantém a lucidez e o bom humor, sobrando para o líder Ortodoxo da Rússia a quem aconselhou não ser coroinha do presidente Putin.
São detalhes que preocupam: um profissional preparado o acompanha, tanto quando o conduz na cadeira de rodas, quanto nos transladados de um lugar para o outro em cadeiras mais altas. Lembro dos cuidados com a mãe. Quando me dei conta de como os enfermeiros faziam: ficar ereto em frente ao paciente e levantá-lo contra o próprio corpo, só depois fazer um giro que o leve ao lugar destinado. Não tem erro, tornando-se mais confortável para quem é ajudado e menos pesado para quem vai executar a tarefa. Não é apenas uma capacidade de levantar peso, mas o jeito de fazê-lo.
Neste período, os bispos do Rio Grande do Sul fizeram a visita ao Vaticano e tiveram um encontro com o Santo Padre. Depois do protocolo, pediu que assessores se retirassem e orientou os bispos a dizerem e perguntarem o que desejassem. Que ele também falaria tudo aquilo que estava pensando. Bem humorado, contou das andanças pelo Rio Grande do Sul, onde passou por Pelotas, Caxias do Sul e São Leopoldo. Pediu atenção para a proposta do Pacto Educativo Global na América Latina, com as instituições priorizando uma educação humanista e solidária que transforme a sociedade.
Um seminarista mexicano que o esperava na praça do Vaticano gritou ao papa perguntando como estava seu joelho. Respondeu, brincalhão: “caprichoso, muito caprichoso”. Ao que a mesma pessoa retrucou: “obrigado por seu sorriso, por sua alegria por estar aqui, apesar dos incômodos. Você dá um grande exemplo para os futuros padres”. Do papa móvel, Francisco, com um olhar travesso arrematou: “sabe do que preciso para a perna? De um pouco de tequila”. Claro que todos riram. E o vídeo viralizou nas redes sociais, dando mais motivos para que se reze por sua saúde.
Quando a mãe parou de caminhar, a preocupação era de que se tornasse uma pessoa difícil. Há um período de adaptação em que é preciso mais tolerância do que, depois, no dia a dia. Felizmente, ajudava quando se lidava com ela fisicamente e negociações de medicação e horários… Por trás do que se faz está o respeito pela figura humana, que emerge da sua fragilidade. Confesso, sobre o papa, que tenho o coração dividido: ainda há muito o que fazer na Igreja, mas ali existe uma pessoa que já “combateu o bom combate, terminou a sua corrida, guardou a fé e, como poucos, merece a coroa da Justiça”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário