sexta-feira, 25 de março de 2022

Mãos que acalentam a Eternidade

 

Não tinhas este costume de colocar as mãos sobre o colo

e olhar para elas como quem remexe no passado.

Pousadas, silenciosamente entrelaçadas,

dão-te o sossego necessário para meditar.


Elas foram companheiras fiéis:

Na angústia dos momentos em que encobriam teus olhos,

na serenidade com que se juntavam em prece,

na ternura com que ofereciam amparo,

no jeito como acenaram em muitas despedidas…


As mãos que, na infância,

encantaram adultos, com o teu jeito brincalhão e carinhoso.

Ajudaram a levantar das muitas quedas,

a traçar caminhos por rumos que te eram estranhos,

mostraram, no primeiro lar, que, por toda a vida,

precisarias de um recanto onde reencontrar as tuas esperanças.


Mãos que, na juventude, perderam o constrangimento

e souberam abraçar, em momentos em que acolhias ou

que precisavas de um porto seguro.

Nos doces instantes em que viveste juras de amor eterno

ou naqueles em que teus desejos ficaram perdidos

nas dobras do tempo em que desenhavas o teu destino.


Na maturidade, colocaram uma perspectiva diferente,

onde acreditaste que os sonhos haviam ficado adormecidos

e o dia a dia mostrou que não podias desistir.

O que ainda restava de tua família de origem,

a família que formaste,

os novos e diferentes encontros e desencontros...


Foram mãos que, na velhice,

Quando te recolhias ao silêncio, junto ao teu rosto,

eram a serenidade que somente

quem amadurece vê sendo entalhado nos sulcos da face.


Agora, tuas mãos brincam sobre a toalha da mesa.

Amarram os laços da saudade,

enquanto murmuras uma oração.

As cores já se diluíram.

O que tens, hoje, não compensa as lembranças

que carregas no peito…

São sussurros de outros tempos

pedindo para que não esqueças de quem amaste

no murmúrio da brisa que já te acalenta para a Eternidade!

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