domingo, 5 de dezembro de 2021

“Eu não gosto do Natal”

Faltando duas semanas para a celebração do Natal, há uma enxurrada de filmes na televisão aberta e nos canais pagos, assim como no streaming, apelando para seus principais símbolos. Fofuxos e não tão fofuxos assim, recontando lendas ou buscando histórias sentimentais, emocionando por ser uma festa em que os sentimentos transitam desde o “eu não gosto de Natal” até o “este é o momento mais lindo do ano para mim”. A “bipolaridade” é maior conforme o tempo passa e os filmes provocam mescla de reações que vão das lágrimas incontidas aos sorrisos de carinho e saudade.

Também, há elementos de reflexão, como a imagem que circulou semana passada - recebi da Maria da Graça Marques - mostrando menina remexendo o lixo e encontrando uma caixa de boneca. Pela janela, via-se uma outra criança que segurava nas mãos o brinquedo que ali estivera acondicionado. Ambas mostravam-se felizes, sem se dar conta do distanciamento que fazia com que uma tivesse recursos para comprar, enquanto a outra precisa catar nas latas as sobras de uma sociedade que não consegue tratar de igual forma suas crianças que, cedo, são apresentadas às mazelas da vida...

Campanhas se multiplicam com pedidos para que o final do ano seja de momentos que não apenas estimulem o consumo, mas crie uma “bolha” de gratidão e solidariedade. Grupos religiosos e sociais se articulam a fim de conseguir brinquedos em boas condições para que não se tenha alguém precisando se contentar com uma caixa vazia. E alimentos que permitam sobreviver e a vivência de momento tão especial com o que ainda resta do que já foi uma família. Os catadores e seus filhos que percorrem as lixeiras também merecem um lugar na grande mesa de Natal da humanidade.

A Monja Coen conta a história do rapaz que se formou e quis percorrer o caminho de Santiago. Muitas discussões, o pai queria que ele imediatamente fosse trabalhar, enquanto o filho não abria mão da experiência mística. Contrariou o “futuro patrão” e foi. Morreu no meio do caminho… O pai buscou as cinzas e providenciou o funeral. Resolveu atender ao pedido do filho e fez o caminho de Compostela. Em cada etapa, também fazia o seu processo de conversão e foi deixando um pouco da memória do filho. Hoje, é um dos palestrantes que motiva os romeiros em sua peregrinação.

Somos um contínuo de vida. Vai ser bom abraçar e partilhar da mesa com familiares e amigos… As redes sociais repassam informações sobre economia, sociedade, política, educação, segurança e tantas áreas que viveram momentos difíceis, especialmente na pandemia. Problemas que não foram resolvidos e que estarão à porta já nos primeiros dias do ano novo. Isto não impede que se faça uma pausa e se renovem as esperanças de melhorias apregoadas e muitas vezes esquecidas... Somos filhos e filhas da esperança, que necessitam demonstrar gratidão e solidariedade.

A monja Coen diz que “quando a gente abre as mãos, nelas cabem o universo”. E o Universo é vida que se renova em momentos simbólicos como o Natal. O princípio da morte não é a doença ou a velhice. O fim começa ao perdermos a reação ao que acarinha nossos sentimentos, a vontade de reagir à indiferença e reencontrar sentido no que já alimentou nossas esperanças... a inocência de brincar com uma caixa que já teve um brinquedo ou embarcar nos sonhos de quem provou, com a própria existência, que o insólito e o mistério são lugares privilegiados para se viver a própria fé!

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