Em tempos idos, no armazém, quando chegamos a Pelotas, reforçava-se o estoque de refrigerante e cerveja. Só que não havia eletricidade, porém tendo ficado, dos donos anteriores, um buraco no piso, embaixo do balcão de atendimento, que era forrado com serragem, espalhavam-se as bebidas e cobriam com gelo. Depois, uma tampa de madeira ajudava a que o resfriamento fosse mantido por mais tempo. Também precisava pedir ao seu Albino um reforço de querosene para os lampiões de todos os tipos e formatos, que propiciavam a claridade necessária para as festas, em todas as casas.
O mais difícil era para a dona França. A safra do pêssego coincidia com as festas. Não havia pausa. E folga, nem pensar. Trabalhavam até 14 horas, do nascer do sol até tarde da noite. Depois, criaram os turnos, o que possibilitou a diminuição da carga horária. Porém, com um detalhe, viviam como safristas e quanto mais trabalhavam, mais ganhavam. Custaram a se acostumar, porque era sacrifício que possibilitava alívio familiar. As que ficavam mais do que uma safra, “forravam” os bolsos e tinham carteira assinada, valendo para atendimento previdenciário por todo o ano.
Meus três meses de férias de verão já eram programadas com algum emprego arranjado com amigos ou conhecidos da Igreja Católica. Deste modo, trabalhei fazendo e vendendo lanches, em escritório de fábrica de conservas, cobrador de sorveteria, talonagem em gráfica, abastecedor de supermercado e, por fim, o mais tranquilo para o final do ano: “faz tudo” na Catedral, onde acompanhava as Celebrações, mas também tinha que recolher o tapete dos noivos, estendido somente no sábado à tarde e que, antes da Missa das 18h30m, precisava voltar para o batistério.
Quando meu pai fez a casa em que moro até hoje reservou um espaço para a “garagem”, onde abrigava uma charrete. Era o veículo que se tinha para entrega ou sair em busca de um fornecedor. Com dois portões de madeira tosca na frente e nos fundos, ainda tinha uma parede lateral com espaçamento entre os tijolos para ventilação. Ali, às vezes com frio, em muitas ocasiões, esperamos pela mãe chegar da “fábrica”. Minha irmã mais velha, a Loci, auxiliava na cozinha e providenciava alguma coisa para a nossa refeição das festas e, muitas vezes, nem se esperava a meia-noite...
Os tempos são outros, as dificuldades também. Mais tarde, já com mais tranquilidade, meus pais e irmãos se davam a alegria de partilhar com vizinhos e amigos as celebrações religiosas, as noites em preparação para desejar o “Feliz Natal” e o “próspero Ano Novo”, como, no dia seguinte, churrascos e almoços… Churrasqueiras eram raras e, de forma improvisada, o convívio virava festa e dava sentido à espera. Não era (e não é) apenas mais um Natal ou uma nova virada de ano. O tempo, que brinca com nossas lembranças e sentimentos, pede um brinde, um brinde à vida!
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