A pandemia não tem lógica. Mesmo com todos os alertas, depois de um ano em isolamento, não se tem como dizer o que se passa na cabeça das pessoas. As reações são imprevisíveis, como a do idoso que recebeu a primeira dose e acreditou que já podia se livrar da máscara e refazer contatos. Infectado, voltou para casa com sequelas neurológicas, sua esposa está internada e as filhas em tratamento. Uma delas disse: “descuidamos e vamos pagar pelo resto de nossas vidas”.
Na semana passada, muitos hospitais reclamaram que estavam ficando sem os kits de entubação. Material fundamental para uma das etapas mais difíceis do tratamento, com medicações para controlar a dor e causar o menor desconforto possível numa técnica invasiva, mas necessária. O diretor de uma das casas de saúde chegou a anunciar que teriam que fazer o procedimento sem a utilização de anestésicos, precisando conter o paciente à força, sendo, dos males, o menor.
O candidato a vereador e enfermeiro apresentava vídeos pelas redes sociais acusando dirigentes políticos de estarem omitindo dados com relação ao coronavírus. Divulgou informações falsas sobre o covid, dizendo que não iria se vacinar e defendendo a utilização de medicações que a ciência negou a eficácia. O Conselho de Enfermagem do Rio abriu processo contra ele. Não chegou a cassá-lo, foi traído pelo próprio vírus que não acreditava ser capaz de levá-lo à morte.
Afinal, o que tem a ver lobos, com a vida em família, problemas hospitalares e um destes arautos de discursos prontos? A falta de uma cultura de responsabilidade social. Numa e noutra situação, os lobos agem por instinto de sobrevivência. O que os deveria diferenciar do homem é exatamente a sua capacidade de criar cultura, especialmente em tempos de crise, buscando atravessar todas as tormentas não “no mesmo barco”, mas com as mesmas condições em que se diminuam as perdas...
Gostaria de poder argumentar que somos uma sociedade solidária. Também não se pode generalizar dizendo que a população é avessa aos cuidados mínimos necessários para controlar a pandemia. Tem-se um grupo que age assim, tornando difícil o controle, e um outro que ajuda na situação de pobreza em que muitos sobrevivem. No meio, a maioria silenciosa e, preocupantemente, indiferente. Que deixa pelo caminho os desassistidos sem se dar conta de que a fila anda e, um dia, se tornarão os idosos ou estropiados que podem encerrar a grande procissão dos desamparados…
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