Por recomendação do Andrei Thomaz Oss-Emer (gringo de origem), assisti ao documentário “Legado Italiano”, admirando a contribuição que trouxeram a uma região inóspita, onde fincaram a vontade de fugir da miséria. Contrariando expectativas de administradores, que preferiam vê-los empregados, especialmente na produção do café, desenvolveram a indústria, gastronomia, turismo, religião, língua e a música. Lembrada no especial com cantigas populares da época, um dos seus legados, que resultaria no cancioneiro romântico que marcou toda uma geração pelo mundo…
O filme mostra o que se quer ver – as belas paisagens, gastronomia, parreirais, a gente acolhedora - e também o fato de que eram os pobres que a Itália queria exportar, sendo que o Brasil precisava como mão de obra. A saga: vindos em embarcações apinhadas, com muitos morrendo pelo caminho, sem uma sepultura digna. E a necessidade de preservarem a união – um destes elos era a própria fé católica – mantendo os costumes de conviverem aos fins de semanas, nas Missas, mas também em refeições típicas (polenta e vinho), jogos, de carta e truco, e os corais – a música em grupos.
Muitos sacrifícios até atingirem a pujança que alcançaram. Tomaram decisões difíceis. Os “bambini italiani” que conheci já eram de gerações que contavam histórias de seus avós, preservando tradições… por exemplo, o fato de que vinham buscar a formação para padre era, em muitos casos, porque os pais não conseguiriam financiar estudos, com eles na roça. Ficavam em casa os mais velhos. Garotas e garotos iam para as casas de formação religiosa em busca de estudo e, quem sabe, de uma vocação. A situação podia ser pior quando precisavam entregar os filhos para adoção!
Não chegara aos anos 1900 e muita gente entrou pela Lagoa dos Patos, seguiu até Porto Alegre e, dali, do jeito que conseguisse, subia para o que sonhavam ser, um dia, o seu lar. As marcas estão nos cercados de pedras em torno das parreiras, os cantos onde ficam amontoadas as lenhas necessárias para enfrentar o frio, as primeiras construções de madeira em que a necessidade muitas vezes fazia com que os filhos casassem e ficassem como reforço da mão de obra. A casa virando um autêntico condomínio. Depois vieram as moradias de pedra e já se julgavam tendo conquistado o futuro…
Falar de cultura, no Brasil, é reconhecer a contribuição de grupos que não marcam a maior parte da população. Alicerça na história e transpira por poros onde se decanta a alma de gente com sangue índio, negro, europeu e oriental... Cada um tendo uma riqueza de valores para auxiliar uma nação jovem e ainda confusa com o próprio destino. Inspirados pelos pioneiros, que deram o último suspiro, voltando o olhar para o pátio, as parreiras, colinas e o infinito. Singraram mares, mas o sonho da eternidade começa pelo lugar onde desbravaram todas as barreiras e plantaram a própria esperança!
Um comentário:
Muito bom. Um abraço, Manoel Jesus.
Postar um comentário