domingo, 11 de abril de 2021

Insetos e disputas, a graça da própria vida

Nosso pátio foi o lugar onde meus pais faziam experimentos como se estivessem numa miniatura de lavoura. Além do arvoredo, que já incluiu uma nogueira com mais de 10 metros de altura, um pé de salso chorão - sombra permanente e raízes expansivas que entupiam os canos - e a minha fruta preferida, de uma figueira, que durou até as primeiras escavações para se colocar a piscina. Também a plantação de milho e feijão (não sei de que tipo), chás e temperos variados. Sem contar que, aqui e acolá, apareciam flores, frutos dos passeios e, por onde se andava, vinham na bagagem.

Desde os tempos em que “nossas terras” tinham as fronteiras demarcadas por cercas com mourões e arame farpado, a disputa era com animaizinhos que queriam se servir da nossa produção. Comprei duas lâmpadas de emergência, uma para o meu apartamento e outra para a casa deles, onde também morava minha sobrinha Vanessa. Em pouco tempo, a deles tinha “dado os doces”. Comprei outra e comecei a observar… noite sim - e outra também - meu pai e a Vanessa saiam, utilizando a lâmpada como lanterna, mais um pedaço de pau, para fazer guerra aos caramujos! Não tinha como durar…

Outro problema sério eram as formigas, que insistiam em sociedade e faziam suas trilhas pelo meio das plantações. Cirurgicamente, um dos dois se escalava, com as mãos na cintura e olho de lince, para fazer diagnóstico da situação. Num cantinho meio escondido era o lugar onde se encontrava a entrada para o formigueiro. Só então, saiam os dois em direção à ferragem do Nestor para comprar “remédio” para as formigas! Sim, meu amigo e minha amiga, eles sempre tratavam o veneno como “remédio”, só que em vez de vitaminar os bichinhos, acabavam fazendo um “formiguicídio”!

Depois que passaram a cuidar das hortas de um outro plano, sobrou para mim a disputa com insetos. Não tenho histórias com muito charme, mas, de vez em quando, tenho que arrumar “remédio” para os caramujos. Levo um tempo para me dar conta de que 2 + 2 são 4! Explicando: algumas plantas vão definhando, ficando com suas folhas tosadas e alguém diz: “tem caramujo no teu pátio”. Agora é na ferragem do Marcos que se consegue o pozinho azul capaz de acabar com os bichinhos, que ainda são devotos de Nossa Senhora Aparecida e fazem uma autêntica colônia no interior da gruta!

As formigas me perseguem na cozinha. Depois de orientação, passei a fazer limpeza geral. Mas… sempre escapa alguma coisa. E elas chegaram. Primeiro as preta, que terminei com inseticida. Faceiro, relaxei e… apareceram as miudinhas. Repeti o mesmo tratamento, mas não surtiu efeito. Pior: dia destes, ao arrumar o café, lembrei que usara a prensa para a janta. Somente coloquei na tomada e fui preparar o resto. Ao levantar a tampa, pontinhos de resto de comida… até que o Tico e o Teco funcionassem… não eram pontinhos, mas formigas que entraram ali e morreram assadas!

Um sobrinho dizia que se devia colocar um cartaz pedindo que os pássaros comessem caquis da parte de cima. E que os de baixo ficassem para nós. Infelizmente, é um tipo de acordo que não existe. Uma antiga briga da humanidade, encontrar o limite onde homens e animais convivam. Alguma função eles tem. Mário Quintana dizia: um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vida dos insetos...” Olhando para os céus, fica a impressão de que é só uma questão de perspectiva - o infinito, com certeza, é a graça da própria vida!

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