domingo, 6 de dezembro de 2020

Natal: a celebração da saudade e da esperança

 

Chegamos a Pelotas no final de julho e eu havia completado quatro anos no início de junho. Minha família ainda estava em busca de parentes que vieram antes para os arredores da cidade e se acostumavam com o fato de que meu pai, seu Manoel, até então pequeno agricultor e prestador de serviços, especialmente na colheita do arroz, agora precisava se adaptar à vida de atendente de um “bar e armazém” que levaria seu sobrenome: “Raulin”. Não lembro do nome anterior do ponto de comércio, mas ficou gravado que eram irmãos conhecidos como “os três patetas”!

No 5º Subdistrito de Canguçu não havia uma igreja (ao menos que eu lembre). O padre aparecia uma vez ao ano e fazia os batizados, casamentos e as “encomendações” dos defuntos, recentes ou não. Com vizinhos religiosos, como a dona Rita, acabamos conhecendo a igreja de Santa Teresinha (com “s”, sim, por ter sido o diminutivo assumido como nome próprio – ainda manias de professor de redação!). Não tinha parâmetros para avaliar, um pouco pela idade, outro por não conhecer templos diferentes. Mas, era estranho que não tivesse forro e o piso fosse de tijolos expostos…

Mais tarde soube que a igreja sucedera a uma estrebaria, sim, o lugar onde abrigavam cavalos para atuarem no prado, em alta naquele momento, e lugar a ser visitado em finais de semana para diversão da família. Junto com a dona França, íamos eu, a Loci e o Cláudio (a Leonice ainda não existia) para as Missas de domingo pela manhã, quando, mais estranho ainda, descobri que o homem que atendia naquele lugar era um negro… também se adaptando a um ambiente que, embora fosse de trabalhadores pobres, na maior parte brancos, tinham ressalvas pela sua presença…

Testemunhei seu esforço para fazer com que a igreja Católica fosse sinal forte no bairro. Estavam começando os ventos que se fortaleceriam no Concílio Vaticano II. Mas ele já era figura constante nas nossas vidas, de batina, não se furtando em jogar futebol com as crianças nos campinhos, para onde as catequistas vindas da Minha Casa Rural nos levavam e davam as primeiras instruções sobre fé e religião. Fui um dos beneficiados pela escola do Padre Roberto, nas primeiras séries, instalada junto da igreja, com uma gráfica que lhe dava sustento e mantinha suas obras.

Só então, lançou-se atrás do seu sonho: uma nova igreja. A comunidade tinha poucos recursos e a demora foi imensa. Num Natal, reuniu lideranças e conhecidos para algo inédito: paredes levantadas, sem telhado e com montes de terra e material de construção, queria fazer a Missa do Galo nas novas dependências. A instalação de um caminhão que serviu para ser o local de colocação das mesas da Eucaristia e da Palavra. No “muque”, formou-se o espaço do sagrado que atraiu muita gente e impulsionou a sua conclusão, ao menos de uma forma que já fosse possível ser utilizada.


Sexta-feira, participei da Missa na Santa Teresinha. Lembrei dos que saiam de fábricas, comércio, prestação de serviços… Meu pai, seu Borges, seu João (os da minha rua) atendiam atividades pesadas, levantando paredes, em todos os sentidos… a mãe, dona Rita e outras ajudavam na limpeza… Nas paredes estão risos por representações; lágrimas pelos que partiram; vozes de reuniões e celebrações... Rezei por todos, pois se, hoje, há uma igreja que celebra o Natal por aqui, com certeza, outra têm o privilégio de viver o “natal” na presença e na companhia do próprio menino Jesus!

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