terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Menos fome, mais humanidade


Acompanho relatos feitos por entidades que se preocupam com populações em situação de risco (como os Médicos Sem Fronteira). Quase sempre, em lugares onde impera a violência ou regiões inóspitas. Não tem como se saber qual dos males é o pior: a guerra (ou guerrilha), que vitima os homens, mas não poupa crianças, mulheres e idosos, com as marcas que ficam pelo corpo e também no espírito; a desagregação dos grupos, quando são tratados como manada e redistribuídos até por outros países; e o espectro que desidrata e aniquila até a vontade de viver: a fome.

As medidas econômicas de auxílio do governo tem sido paliativo que ajuda, mas não é suficiente para acabar com um problema que não é causado pela guerra ou por elementos climáticos, mas por decisões políticas que canalizam recursos para a própria estrutura pública. Que vê nos gastos com a população um inconveniente, já que terá que repartir aquilo que se transforma em benesses para altos escalões. Repetindo: temos impostos de primeiro mundo, com serviços de terceiro e, sim, uma máquina que está sendo paralisada porque desatualizada e incapaz de atender às demandas sociais.

Os bancos de alimento das cidades, assim como o Banco de Alimentos Madre Tereza de Calcutá, o Instituto de Menores e as paróquias de diversas religiões estão correndo atrás, hoje, não para dar um Natal melhor para a população em situação de miséria, mas colocar o alimento necessário em suas mesas para garantir o sustento. Não é o panetone, o refrigerante ou um doce que vai alegrar a vida de famílias que perderam empregos ou viram suas rendas diminuídas. Isto é luxo comparado com a necessidade do arroz, do feijão, da massa, do óleo, leite… que permitam a subsistência.

Um conhecido disse que, este ano, não vai ter presentes para a família, amigos e pessoal do trabalho. Em casa, apenas o que for realmente preciso para uma ceia de Natal e Ano Novo. O que iriam gastar pretende transformar em cestas básicas. Já tinha a informação de entidades que atendem crianças em situação de risco e que, agora, estão garantindo alimento para suas famílias. Mas ainda faltam doações. Então, pela conta que fez, já sabe que vai doar, ao menos, o equivalente a três cestas básicas. Gostei da ideia e já contei para familiares: vou fazer o mesmo!

A campanha por menos fome (não vamos solucionar o problema num passe de mágica) precisa se transformar num momento de mais humanidade. Não creio que as perdas e os problemas causados pela pandemia nos deixem melhor enquanto sociedade. Mas creio, sim, que um número maior será capaz de perceber o quanto a visão de que “pobre é pobre porque quer” ou de que “não souberam aproveitar suas oportunidades” transformou-se em falácia difícil de se sustentar quando há uma cultura da pobreza que já vem de gerações, incapaz de, por si só, transformar esta condição.

A pandemia levou entidades a investirem em sistemas que permitem a doação de dinheiro, em alguns casos com a possibilidade de que se escolha os alimentos, até o recolhimento de bens de consumo. O sociólogo Betinho idealizou campanha nacional buscando a solidariedade entre os brasileiros: “quem tem fome tem pressa” é desafio de virarmos este ano difícil fazendo com que mais gente possa viver com menos sofrimento… e, quem sabe, bem mais dignidade!

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