Acompanho relatos feitos por entidades que se preocupam com populações em situação de risco (como os Médicos Sem Fronteira). Quase sempre, em lugares onde impera a violência ou regiões inóspitas. Não tem como se saber qual dos males é o pior: a guerra (ou guerrilha), que vitima os homens, mas não poupa crianças, mulheres e idosos, com as marcas que ficam pelo corpo e também no espírito; a desagregação dos grupos, quando são tratados como manada e redistribuídos até por outros países; e o espectro que desidrata e aniquila até a vontade de viver: a fome.
As medidas econômicas de auxílio do governo tem sido paliativo que ajuda, mas não é suficiente para acabar com um problema que não é causado pela guerra ou por elementos climáticos, mas por decisões políticas que canalizam recursos para a própria estrutura pública. Que vê nos gastos com a população um inconveniente, já que terá que repartir aquilo que se transforma em benesses para altos escalões. Repetindo: temos impostos de primeiro mundo, com serviços de terceiro e, sim, uma máquina que está sendo paralisada porque desatualizada e incapaz de atender às demandas sociais.
Os bancos de alimento das cidades, assim como o Banco de Alimentos Madre Tereza de Calcutá, o Instituto de Menores e as paróquias de diversas religiões estão correndo atrás, hoje, não para dar um Natal melhor para a população em situação de miséria, mas colocar o alimento necessário em suas mesas para garantir o sustento. Não é o panetone, o refrigerante ou um doce que vai alegrar a vida de famílias que perderam empregos ou viram suas rendas diminuídas. Isto é luxo comparado com a necessidade do arroz, do feijão, da massa, do óleo, leite… que permitam a subsistência.
Um conhecido disse que, este ano, não vai ter presentes para a família, amigos e pessoal do trabalho. Em casa, apenas o que for realmente preciso para uma ceia de Natal e Ano Novo. O que iriam gastar pretende transformar em cestas básicas. Já tinha a informação de entidades que atendem crianças em situação de risco e que, agora, estão garantindo alimento para suas famílias. Mas ainda faltam doações. Então, pela conta que fez, já sabe que vai doar, ao menos, o equivalente a três cestas básicas. Gostei da ideia e já contei para familiares: vou fazer o mesmo!
A campanha por menos fome (não vamos solucionar o problema num passe de mágica) precisa se transformar num momento de mais humanidade. Não creio que as perdas e os problemas causados pela pandemia nos deixem melhor enquanto sociedade. Mas creio, sim, que um número maior será capaz de perceber o quanto a visão de que “pobre é pobre porque quer” ou de que “não souberam aproveitar suas oportunidades” transformou-se em falácia difícil de se sustentar quando há uma cultura da pobreza que já vem de gerações, incapaz de, por si só, transformar esta condição.
A pandemia levou entidades a investirem em sistemas que permitem a doação de dinheiro, em alguns casos com a possibilidade de que se escolha os alimentos, até o recolhimento de bens de consumo. O sociólogo Betinho idealizou campanha nacional buscando a solidariedade entre os brasileiros: “quem tem fome tem pressa” é desafio de virarmos este ano difícil fazendo com que mais gente possa viver com menos sofrimento… e, quem sabe, bem mais dignidade!
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