terça-feira, 29 de dezembro de 2020

"Te cuida”: tempo de amar à distância

A última semana de 2020 vem carregada de preocupações. Sem entrar em detalhes, tudo indica que os primeiros meses do ano novo serão ainda mais difíceis e, na iminência do início da vacinação (sabendo que seu efeito demora em torno de um mês: primeira dose, segunda, e oito dias para dar resultados), acontecem duas grandes festas populares que levam milhares de pessoas para as ruas, ambiente propício para a contaminação. Quando o álcool e a euforia fazem com que se despreze os protocolos básicos que, por enquanto, é tudo o que se sabe que pode surtir efeito preventivo.

Curioso que, na virada do ano, o que mais se deseja é “saúde e paz”, completando: “o resto a gente corre atrás!” No entanto, como alerta uma das muitas campanhas de conscientização: “basta um momento para acabar com todos os outros”. Para quem não prestou atenção, inicia com o rapaz desesperado numa sala de espera de hospital, enquanto o pai está sendo entubado. Sentindo-se culpado por saber que foi o responsável, pois chegou da rua, voltando de uma balada, e, sem qualquer cuidado, contaminado pelo coronavírus, tirou a máscara e foi beijar o idoso.

Embora se fale a respeito do tratamento, não são muitas as gravações em lugares onde pessoas são entubadas. Não havia visto um centro de atendimento e, ao assistir matéria, fiquei assustado: leitos com pessoas praticamente nuas, debruçadas para facilitar o trabalho dos pulmões, um dos lugares mais afetados, causando a diminuição da capacidade de respirar, quase sempre com sequelas. Conversei com conhecidos que se fossem feitas campanhas com estas imagens (semelhantes às estampadas nas carteiras de cigarro), diminuiria o número dos que apostam numa “gripezinha”.

O que leva, de novo, para os ambientes hospitalares onde os profissionais vivem uma rotina estafante que os afasta do convívio com familiares e, quando possuem filhos, têm que fazer ginástica para entrar no processo de descontaminação e não levar o vírus para casa, o que, em muitos casos, diminuiu até o convívio afetivo. Estar com idosos, especialmente os pais, tornou-se quase impossível. Uma atendente de enfermagem chegou a dizer: “não é a distância que torna as coisas mais difíceis, mas a saudade de tocar e abraçar quem dá sentido às nossas vidas”.

Final de ano é tempo de tirar lições do que se passou. A valorização dos profissionais de saúde ainda é mais cantada em prosa e verso do que uma realidade consciente por parte da população… os auxílios emergenciais evitaram que se estabelecesse o caos numa economia que já vinha definhando… os processos de educação, precários, expuseram as suas mazelas, especialmente a distância entre as classes sociais… idosos e grupos de risco viram suas vidas colocadas em perigo por pessoas imediatistas, incapazes de pequenos sacrifícios e pensar no bem de todos...

Mesmo que você possa ter um “formigamento” para sair na noite do dia 31 e esperar o 1º de janeiro na praia, ou lugar público, faça melhor: fique em casa. Telefone, use redes sociais para mensagens ou videoconferência. É um tempo para se amar à distância, o que não impede que se acarinhe pais, filhos, parentes, amigos e desejar o mesmo que se faz todos os anos: “te cuida!” Um pedacinho do nosso coração que percorre qualquer distância para prometer: “tô contigo e vou continuar contigo”. Gesto que assegura os cuidados necessários para que se possa desejar um feliz e abençoado 2021!

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