terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O caminho para Belém passa por Jerusalém…


Seria uma longa jornada até Jerusalém. Na madrugada, José aprontou o burrinho onde dispôs material suficiente para a viagem de quatro dias. O essencial, pois tinha medo de que Maria se cansasse e fosse preciso ser carregada. Saíram de Nazaré para a estrada onde se juntavam as caravanas e pessoas que iam à Cidade Santa: peregrinos religiosos, negociantes e aqueles que atendiam ao chamado para o recenseamento, decretado por César Augusto, o que fazia José voltar à sua cidade de origem, desta vez acompanhado da esposa e do filho que estava por nascer.

Nos primeiros raios de sol, a movimentação era intensa: famílias inteiras se juntavam para fazer uma viagem que demandava paciência e, juntas, poderiam ter segurança contra animais e salteadores. Enquanto adultos arranjavam animais e cargas, as crianças faziam bulício ao redor, brincando, correndo, passando pelo meio dos grupos, indiferentes às reprimendas e advertências. Nas viagens, era sempre assim: pareciam não se cansar, até que, ao fim da tarde, quando montavam acampamento num descampado, mal mastigavam alguma coisa e apagavam.

A barriga crescia bastante de um dia para o outro. José voltou, trazendo junto uma menina que se identificou como Miryam. Sorriu para a pequena que, silenciosamente, ficou com o casal enquanto se deslocavam e encontravam o grupo que já estava em marcha. Maria teve com quem conversar, enquanto o esposo ajudava o burrinho. A menina não corria ou falava muito. Apenas acompanhava, atenta ao que diziam. Maria explicou que seus nomes tinham o mesmo significado: Miryan, do hebraico, e Maria, do sânscrito, tinham a doçura da pureza e da virtude.

No final da tarde, uma carroça estava com o rodado trincado e coube ao carpinteiro José concertar. Em seguida, uma criança apareceu com um banquinho que tivera o pé quebrado… Entretidos, Maria preparou a refeição da noite, enquanto as crianças, cansadas, seguiam Miryam e ficavam ao seu redor. O suficiente para fazer uma das coisas que mais gostava: contar histórias e falar de Javé… Narrou que sua terra era o lugar predileto de Deus e Ele enviaria Seu filho para salvar a humanidade. A noite já se punha quando as mães começaram a chamar e recolher os filhos.

Conversando com José, Miryam e as novas companhias, fizeram uma viagem tranquila, até chegar a Jerusalém. Em suas portas, parou diante de tanta grandiosidade e assustada com a movimentação de pessoas que entravam e saiam. O coração lhe dizia que aquela cidade ainda causaria muito sofrimento para sua família. Miryam segurou a mão de Maria que sentiu os dedinhos firmando os seus. Em breve, o filho faria o mesmo. Que costumes teria: dormiria bem, seguraria seus dedos ou seu cabelo quando caísse no sono? Seria capaz de libertar seu povo?

A jornada era menor até Belém. Por entre olivais, onde viam pessoas tratando das azeitonas, já tinha dificuldades para caminhar. Faltava tão pouco. Deixaram a Cidade Santa para trás certos de que era apenas o início de uma nova e longa jornada. O Filho de Deus abriria os olhos para um mundo que, ainda hoje, precisa aprender que o fausto de Jerusalém é nada comparado a uma simples manjedoura, em meio a pastores, nos estábulos que acolheram Jesus, em Belém. Deus se fazendo homem e dando a chance de que o homem chegue mais perto de Deus. 

Feliz e abençoado Natal!

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