O fotógrafo levou um susto: à sua frente uma menininha em um cenário de guerra. Para ele, algo comum, já que faz a cobertura dos conflitos instalados na Síria. Mas a reação da criança surpreendeu. Ao ver a câmera voltada para ela, pensou que fosse uma arma e levantou os bracinhos, num gesto que deve ter aprendido com seus pais e irmãos como um jeito de escapar da violência que assola o lugar onde mora.
Ver uma criança portar-se como uma adulto diante de uma cena de violência é o triste reconhecimento de que o olhar triste da menina já aprendeu a conviver com o descaso com o ser humano e a sua existência. Levantar as mãos é um pedido de que lhe poupe a vida, possivelmente o único bem que ainda lhe restou, quando se vê um entorno de devastação e desesperança.
Muitas organizações lutam por recuperar as crianças em cenários de guerra. Mas estamos perdendo batalhas seguidas. Não apenas com aquelas que ficam nos locais de conflagração, mas também as que são obrigadas a se instalar em locais de refúgio, assim como as que migram com suas famílias, enfrentando o esfacelamento dos vínculos familiares, afetivos e, mesmo, das referências de origem.
Isto sem falar das muitas e múltiplas violências que sofrem as crianças em periferias das grandes e médias cidades. Pintar um quadro assim pode ser chamado de catastrófico. Mas não há outra forma de mostrar à sociedade o quanto estamos sendo incompetentes em preservar aqueles que dependem de nós para verem um Mundo diferente.
Um pensador dizia que não devemos pensar num Mundo melhor para nossos filhos, mas sim em preparar filhos melhores para construírem um Mundo melhor. Creio que uma coisa não impede a outra. Fazer a nossa parte não significa que deixemos um legado de coisas prontas somente para serem usufruídas por futuras gerações. Mas que não nos omitimos, também educamos para que sejam conscientes do quanto é necessário ter consciência da fragilidade do ser humano e do planeta em que vivemos.
Uma criança que levanta os bracinhos numa súplica pela vida ainda tem esperanças. Quer continuar vivendo e, para isto, precisa da solidariedade de todos nós.
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