No final de semana passei por duas experiências interessantes: fui a Caxias do Sul e tive minhas primeiras "12 horas de babá", assim como estive no hospital Pompeia, onde boas lembranças fluíram. Em ambos os casos, a impressão era semelhante: entre a primeira infância e o tempo de aprender a se resguardar fisicamente o fio condutor é o mesmo: carinho, o direito de apenas ter uma mão que receba outra. Ou um olhar que acaricie em silêncio.
Meus sobrinhos Elisandro e Daniele trabalham na área da saúde, com horários desencontrados. Sempre que possível, alguém da família faz presença, especialmente para os momentos em que os dois trabalham. Com 9 meses, o pequeno Miguel já sabe até a hora em que os pais chegam e fica procurando a porta com a cabeça. Preparei-me para o pior quando tivemos que ficar sozinhos pela primeira vez durante duas horas. Engano meu: passamos um dia em que aprendi a esquentar mamadeira (mas não cheguei às fraldas - meu sobrinho chegou antes). Depois foi curtir o clima da serra em família.
No domingo, tive a chance de encontrar uma pessoa especial: padre Olavo Gasperin. Ele visitava familiares em Bento Gonçalves, quando teve uma queda séria. Conduzido ao hospital, precisou ficar em Unidade de Tratamento Intensivo. É um choque ver alguém que sempre foi dinâmico, orgulhoso do seu Grêmio, com um comentário brincalhão e sagaz na ponta da língua estar ali, com movimentos restritos, ligado a aparelhos, sem o seu toque pessoal de cuidados com o corpo e a aparência.
Entre ter o Miguel nos braços e poder segurar a mão do padre Olavo havia duas coisas em comum: a intensidade do olhar e a troca de carinho possível e necessário seja ao vislumbrar a aurora que se anuncia, ou quando nos preparamos para o ocaso, um tempo especial de amadurecimento na chegada da noite.
A fragilidade da infância e de uma idade mais avançada é um tempo privilegiado para eles saberem com quem podem contar entre os familiares e amigos. Para nós é o jeito que a natureza tem de dizer que é sempre tempo de aprendizado, até quando nos sentimos próximos da nossa finitude.
Tenho certeza que ambos ainda vão me ensinar muito. O Miguel vai crescer e ter um tio avô babão e amigo. Com o padre Olavo espero falar de futebol, bons textos e da boa música italiana. Dos dois vou guardar a lembrança de que num final de semana gelado ambos me disseram muito quando apenas procuraram minha mão, reforçado por um olhar, em silêncio, por onde passou uma torrente de palavras.
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