Não foi notícia que mereceu destaque na capa de jornal. Estava na página em que se listam os obituários e uma nota curta na coluna de entretenimento: "morreu Fofão". O boneco criado por Orival Pessini (que efetivamente faleceu), como apoio ao programa Balão Mágico (Rede Globo) - um alienígena atrapalhado de enormes bochechas, nascido no planeta “Fofolândia”. Ganhou a simpatia das crianças e, em seguida, na Rede Bandeirantes, seu próprio programa.
Tornou-se um dos bonecos mais vendidos no Brasil, sendo que alguns modelos, hoje, são considerados peças de colecionadores, especialmente para aqueles que, passados dos 30 anos, tiveram sua infância na década de 80 e vibraram com o bom humor e a irreverência em brincadeiras e piadas inocentes.
Minha atenção ficou por conta de um fã do Orival (outros personagens: Patropi, típico hippie, e o macaco Sócrates, que, na década de 70, abria o programa "Planeta dos Homens"), que o convidou recentemente para participar de uma convenção, caracterizado de Fofão. O sucesso foi enorme com muita gente fazendo fila para tirar fotografias com o ídolo de sua infância. Outro disse que, já nos seus 50 anos, passou a colecionar bonecos do Fofão, pois na infância não tinha dinheiro para comprá-los.
Não tenho brinquedos da minha infância. Hoje, olho meio encabulado as lojas de brinquedo onde são expostos bonecos antigos. E, se for iniciar uma coleção, o Fofão estaria entre eles, agregando o Topo Gigio (o ratinho simpático que dava boa noite acompanhado pelo Agildo Ribeiro) e o robô "lata velha" (como chamava o doutor Smith), da série original "Perdidos no Espaço". Na turma Disney, incluiria a vovó Donald, o Pateta e os três sobrinhos - Huguinho, Zezinho e Luizinho.
Com esta lembrança, naquela noite, fiquei mais tempo contemplando a lua que estava quase cheia, quando passou uma estrela cadente. Fechei os olhos e no seu rastro seguia um balão mágico, onde crianças se eternizavam com seus risos contagiantes e olhos acesos. Brincavam com seus bonecos do Fofão, provando que seu criador se foi mas o personagem entrou na galeria dos que são eternos enquanto houver uma criança que o abrace e tenha seus sonhos povoados pela magia e encantamento.
Podem haver muitas explicações psicológicas. Possivelmente todas elas tenham sentido. O que não impede que, realizados em diversas áreas, ainda reste o sentimento de que não deveríamos ter perdido a inocência infantil. Na estrada que leva para as estrelas há um planeta para as crianças - e aquelas crianças que já cresceram - que torna impossível esquecer o caminho que leva à "Fofolândia".
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