Pai idoso e filho sentados num banco. O filho lê jornal, o pai contempla o entorno. A pergunta: "filho, que pássaro é aquele?" Irritado, o rapaz joga o jornal para o lado e diz: "o senhor já me perguntou uma dezena de vezes, já lhe disse que pássaro é aquele!" Olhar magoado, levanta em silêncio e entra na casa deixando o filho com jeito de quem exagerou. Volta com um caderno envelhecido - um diário. Folheia e cita: "quando tinhas 9 anos me perguntastes mais de dez vezes que pássaro estava pousando na árvore. Eu te respondi todas as vezes!"
Todas as segundas-feiras vou a um supermercado onde, seguidamente, encontro uma amiga. Numa ocasião, contei que tinha visto sua mãe, numa calçada, com dificuldades. Falou da preocupação com a senhora considerada "teimosa", insistindo em andar pela rua e fazer serviços de jardinagem, para os quais os filhos julgam que não tem mais condições. Pedi apenas que deixassem a mãe viver. Um idoso precisa ter seus espaços e o cerceamento se transforma em problema tanto para ele, quanto para a família.
No nosso horário de chimarrão - 10 horas - recebi outra amiga que falava do trabalho que passam depois que optaram em morar num sítio e cumprem jornada cansativa para um casal já com problemas físicos. O marido não pensa em deixar de cuidar do que planta e de seus animais, assim como a mulher não quer abandonar as flores que cultiva. Não precisam de retorno financeiro, então, o que fazem, é dar prazer e um sentido aos anos em que ainda podem andar com as próprias pernas.
A primeira história é da Internet e mostra o quanto, no convívio com um idoso, pode-se usufruir de uma grande escola de paciência, ou cavar o próprio Inferno. É possível fugir de um idoso, mas é impossível escapar da velhice. No segundo, que as famílias não estão preparadas para cuidar de um idoso à distância. Por muitos fatores, perde-se a noção da individualidade e se quer tutelar alguém em pleno gozo de suas faculdades e atividades físicas, podendo sim fazer o que bem entender, ter prazer em dar sentido à própria vida.
O casal é o típico dilema de quem está envelhecendo e precisa se conscientizar do quanto é bom ser útil, em primeiro lugar, para si mesmo. Não há nenhum sentido em abrir mão daquilo que se gosta porque "vozes" alertam filhos para "supostos" perigos.
Velho não é vasilhame descartável. O ritmo mais lento, o olhar mais demorado, o sorriso mais cansado é um desafio à consciência de que ao acompanhar quem envelhece também se envelhece junto, morre um pouco enquanto aquela vida se esvai. O importante é fazer valer a pena cada dia, os toques de mão compartilhados, as marcas de saudade que ficam no peito ao se fazer uma despedida.
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