Que relação pode-se estabelecer entre o momento que se vive, na política, e o texto evangélico de São Lucas onde se narra a saga dos Discípulos de Emaús? Lembrei disto quando, semana passada, tinha que preparar uma conversa sobre um dos mais fortes momentos vividos pelos seguidores de Jesus e um desabafo de um colaborador de jornal que mostrava toda a sua decepção com a preparação para as eleições de 2 de outubro.
O articulista tinha mandado uma mensagem depois do último texto que publiquei sobre eleições. Mas mostrava sua decepção com o momento atual, em especial com o discurso e a postura dos candidatos. Repliquei com o carinho especial que merece quem, mesmo decepcionado, dá a cara a bater. Em qualquer caso, não se pode deixar a esperança morrer. Lembrava da frase: não penses no mundo que prepara para teus filhos, mas que filhos prepara para fazer um mundo diferente.
O paralelo com Emaús é que na célebre passagem são dois companheiros que tiveram seu momento de glória na vivência com um grupo privilegiado. Durante três anos passaram por um processo de formação único na história da humanidade. Aí veio a decepção: morreu seu mestre e o grupo se dispersou. Cabisbaixos, precisavam voltar à sua vidinha. No caminho, encontram um forasteiro que lhes abre os olhos, mostrando que tudo tinha que ter acontecido para que não morresse a esperança. Já não mais deslumbrados, amadurecidos pela própria caminhada, tinham uma certeza: o que viram e ouviram era muito grande para guardar apenas para eles!
Na volta, era preciso anunciar e testemunhar. Nada de proselitismo (conversão à força). Lembrando a imagem do padre Attillio Hartmann, em religião (como em politica) é preciso ter cuidado para não arrombar a porta, pois a pessoa pode estar observando à janela.
A distância entre Jerusalém e do que hoje se acredita tenha sido Emaús é de aproximadamente 12 quilômetros. A pé, cerca de três horas. Tempo suficiente para muita conversa, falar, perguntar e ouvir. Entre o caminho e um jantar muito especial, um tempo para tomar uma atitude. A frase motivadora da minha conversa é: “eu vou a Emaús!”. Um chamado para uma atitude religiosa mas também política.
Meu amigo articulista é um homem de atitude. Dá pra ver pela forma como vive família, seu casamento e criação de dois filhos. Mas também porque tem uma preocupação em externar seu pensamento sobre as temáticas atuais - inclusive a política. O desafio é nos darmos conta de que não são os outros que nos fazem felizes ou infelizes, mas nós mesmos, pelos nossos erros e omissões, acertos e engajamento.
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