Estudando, trabalhando, namorando ou apenas passando o tempo, o rádio foi e é presença em muitas noites em que se precisa de companhia. Mas, em épocas passadas, tinha um porém: pela uma da madrugada, solenemente, um locutor anunciava que a emissora estava dando o prefixo (sua identificação) e saindo do ar para voltar... Daí nasceu a expressão "dá o prefixo e sai do ar", usada quando se quer afastar algum chato.
Dei esta dica para um aluno que me olhou perplexo, perguntando: "como assim?" Só então flagrei que a expressão já não fazia mais sentido, são novos tempos, em que as emissoras não interrompem mais a sua programação. E que não adianta querer se livrar dos chatos, que eles não saem do ar!
O rádio é um dos grandes amores da minha vida. Sinto falta de atuar nele (um dia ainda volto), mesmo que em praticamente todas as atividades em que participo a discussão a respeito venha à tona. Especialmente agora que a faixa do rádio AM está desaparecendo (terão que migrar para FM). Aqueles que passaram dos 50 anos ainda ouvem AM, com sua proposta mais informativa - em notícia de geral ou esportiva. A faixa dos 30 aos 50 anos ouve bastante FM, na busca por entretenimento.A grande pergunta: e os mais jovens, ouvem o quê? A impressão é que já não ouvem mais o rádio convencional - se ouvem, o fazem raramente. A maioria monta suas "rádios" pela internet, com seleção musical própria e, de vez enquanto, escapa para o AM ou FM.
Diante deste quadro, senti uma aragem agradável com dois recentes eventos do rádio em Pelotas: o radialista Wolney Castro lançou seu livro Histórias do rádio, recuperando memórias, sua trajetória especialmente nas emissoras AM da cidade - do pitoresco aos bastidores de veículos que merecem ser melhor conhecidos.
O surgimento do programa do Sério Correa, nas manhãs da Rádio Tupanci: com notícia atualizada e comentada, a participação do ouvinte, fazendo valer a memória coletiva e afetiva daqueles que reconstroem o imaginário da cidade a partir de seus "causos", lembranças que, ao serem despertadas, cerram fileiras em torno da própria história.
Não sei qual é o futuro do rádio. Como todos os meios de comunicação vai acabar se reinventando. Migrar do AM para o FM é uma determinação técnica. Encontrar seu espaço nas novas mídias - como a Internet - é a forma de atender àqueles que deixam o radinho de pilha pelo sinal digital nos smartphones. Talvez não seja o caso de "dar o prefixo e sair do ar", mas, com certeza, é possível continuar sendo o companheiro que acalenta sonhos e, pelo desfile de vozes, sons e cadência musical recria mundos pelo imaginário de cada um, como somente o rádio sabe fazer.
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