terça-feira, 25 de outubro de 2011

A lucidez de um Pastor


Emocionante artigo a respeito de religião e espiritualidade. Enviado pela minha amiga Olga Ferreira.

Parece mentira, mas foi verdade. No dia 1° de abril de 2010, o elenco do Santos atual campeão paulista de futebol foi a uma instituição que abriga 34 (trinta e quatro) pessoas. O objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria com paralisia cerebral. Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou.
Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio Costa (32a), Durval (29a), Léo (24a), Marquinhos (28a) e André (19a) todos ídolos superaguardados.
O motivo teria sido religioso: a instituição era o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência à Paralisia Cerebral. Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade. posteriormente, o Santos informou que os jogadores não entraram no local simplesmente porque não quiseram.
Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca (23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram com as crianças.
O escritor, conferencista e Pastor (com P maiúsculo) ED RENÉ K IVIT Z, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fez uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto "No Brasil, futebol é religião", que abaixo tenho o prazer de compartilhar.

“Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando se começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra a prática do homossexualismo; ou mesmo se alguém tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, já se está a discutir religião. Quando alguém começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Alcorão, se está discutindo religião. Quando alguém fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, já se está a discutir religião.
O problema é que toda vez que se discute religião afastam-se as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio, por assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas, quando alguém concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, se está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando alguém está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, este ser humano promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando alguém vive no mundo da religião, ele fica no ônibus. Quando alguém vive no mundo da espiritualidade, que a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, este indivíduo desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.”

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