segunda-feira, 7 de março de 2011

Trabalhando a perda

Diante de tantas perdas neste período de Carnaval, lembrei de um texto que fiz em
homenagem ao presbítero Cláudio Neutzling

A perda é um dos sentimentos mais difíceis de serem trabalhados. E, no entanto, uma das poucas certezas absolutas que temos, enquanto raça humana. O sentimento de estar diante do tudo, ou do nada, é capaz de abalar até mesmo aqueles que se julgam devidamente preparados para enfrentar o que a vida lhes possa oferecer. E aí é que está a diferença: as pessoas são preparadas para viver. E não para morrer.
Nossa luta, até o último suspiro, é para que ainda se ganhe um tempo para, olhos no mundo, se possa contemplar seres que amamos, lugares que nos aconchegaram, sentimentos que o tempo faz com que se transformem num emaranhado de sentidos.
Mas porque um desesperado “diante do tudo, ou do nada”? É que somos céticos diante do muito que a vida nos apresenta. E, em última instância, ainda temos dúvidas se, do outro lado, estão os braços de Deus. Ou o nada.
Neste momento, tudo o que possa ser dito é inútil. E tudo o que não é dito precisa estar presente naquele abraço para quem fica. Uma sentida solidariedade que percebe a perda, mas que valoriza a presença.
Numa reunião, contaram-me, uma senhora utilizou boa parte do tempo – e da paciência daqueles que estavam presentes – para reclamar do filho, envolvido com drogas, e de Deus, que tinha permitido que as coisas chegassem ao que havia chegado. Coisas do tipo: “Deus não podia ter feito isto comigo”, ou “o que fiz para merecer este fardo”. Depois de algum tempo de ouvir solidária, outra senhora, com o rosto esculpido no palmilhar do tempo confessou: “Pois Deus ajudou muito no tratamento do meu filho”. E a outra: “Ajudou? Então ele está curado?”. Olhar atento a um coração que ainda tinha muito para aprender: “Não. Meu filho morreu. E agora eu já não posso fazer mais nada por ele. Sorte sua que seu filho ainda está vivo”.
Lapidar a sentença. Triste o ensinamento. Ao olhar para trás, é melhor valorizar as marcas que a vida foi nos deixando. Aprendendo com elas, por certo vamos ter outros olhos para quem está do nosso lado. Ainda está. Ainda estamos. É por estes pequenos motivos que devemos agradecer a Deus. Afinal, a vida de cada um – criança, adulto, idoso – tem a sua força e o seu porquê. Talvez não nos seja dado entender, agora. Mas, com certeza, esta também pode ser uma das grandes lições que separam a vida da morte.

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