Restou um violão encostado na parede.
Pelos lugares onde se viveu,
Há resquícios de risos, sorrisos,
Conversas altas e descontraídas,
Canções que grudaram na memória
E as noites em que dançar
Era a magia da sedução possível...
Uma roda de música tinha
A sonoridade do pandeiro, com
A batucada nas mesas, talheres
Ou qualquer objeto que desse ritmo.
Aquecer a voz envolvia a forma
De partilhar trejeitos e olhares,
Que eletrizavam um momento...
Era mais do que cantar,
A liturgia que se apossava do corpo inteiro.
Éramos tão jovens e qualquer desculpa
Servia para que se ficasse juntos.
Conhecíamos sonhos e aflições,
O jeito de ser de cada um,
Anseios e expectativas,
Partilhando o aconchego
De viver em um lugar simples
Que podíamos chamar de lar.
Nossos horizontes apenas
Alcançavam as fronteiras da cidade.
Não havíamos ganhado o mundo,
Nos contentávamos com a rua,
A escola e, mais tarde, o trabalho, além
Daqueles que precisávamos para aquecer
O sentido da nossa história.
Muitas tardes de sábado, de domingo,
Noites de verão e de férias
Tinham o gosto da partilha.
Na casa de alguém, no centro social,
Na beira de um campo de futebol,
Nas esquinas e nas praças.
A atração fazia com que onde estivesse um,
Em pouco tempo, juntava-se uma galera...
Jovens tardes de muitas lembranças…
Um tempo de sonhos e esperanças.
Hoje, as ausências doem mais quando
As presenças se mostraram tão marcantes.
"Eu me lembro com saudade o tempo que passou..."
Passou tão depressa que em nós deixou
A inspiração por todas as nossas memórias,
Guardadas na mente e em cada coração…
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