Confesso que em muitas ocasiões as usei
- e delas judiei – como quem tenta controlar a sua forma,
sem conseguir me apropriar da sua essência.
Foi um tempo em que dizer ou escrever demais era fútil
e as esparramava ao vento,
negando-lhes o direito de existirem livres e soltas.
Presas aos excessos de textos, registros, falas...
Lutando pela própria identidade,
pelo prazer de saborear o seu sentido.
Essência e sentido que estão naquilo que as precede:
o silêncio, grávido de todos os significados.
Não os significados dos dicionários que desnudam as palavras,
mas das humanidades que os revestem com a pureza da alma,
que ama saber o quanto elas precisam ser valorizadas -
quando são ditas ou silenciadas.
A sexta-feira de todas as paixões, é um tempo de escuta.
A “paixão” da velhice, que aumenta as minhas perdas;
a “paixão” da ausência, que lateja nos meus sentidos;
a “paixão” do corpo definhando,
que encontra arrimo nas minhas lembranças…
A alma não tem idade e a mente pode não envelhecer,
mesmo que o corpo dê sinais de que
é necessário se libertar da tirania da beleza,
aceitar que o tempo marcou nossas faces e saber
que as paixões já não serão arrebatadoras como na juventude.
Com o tempo, as palavras fazem um pacto com a solidão.
Relógio implacável mostrando que a natureza segue o seu curso.
No tic-tac das horas, resta um coração em busca de um afago,
mendigando o direito de compartilhar sonhos
que não permitam que a alma envelheça…
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