domingo, 24 de abril de 2022

Precisa-se de uma família...

Não era sequer um caminho, apenas um trilho formado no arrastar dos pés por sobre a grama que ainda viceja na encosta, ligando os bairros Quartier e Quinta do Lago. Embora acidentado e irregular, fiz passagem, na caminhada, lugar bom para fortalecer as pernas. Na manhã de sábado, vi um casal que descia acompanhado de um menino e esperei. Quando a criança me viu, soltou-se na encosta e desceu rápido, com os bracinhos abertos. Segurei-o e os pais se mostraram surpresos: “ele nunca fez isto!”. Respondi: “pensou que era o avô”. E o pai, sentido: “mas ele não tem avós!”

No dia 5 de junho, completo 67 anos. Na mesma data, completaria 80 anos meu primo e padrinho, o Valdemar. Poderia brincar que fui o presente de 13 anos para ele. Próximo da mãe, convidaram para ser meu dindo. Por toda a vida, ganhei um amigo e um anjo que acompanhou, especialmente a dona França, até o seu finalzinho. Daqueles “padrinhos” que assumem o compromisso em auxiliar os pais, no meio rural, zelando por seu afilhado. Na véspera do dia em que seu coração parou, pude tomar um chimarrão, sozinho com ele, para aquilo que mais gostava: uma boa e gostosa conversa.

A live Partilhando recebeu o casal Carlos André e Adriana. Referências para a Pastoral Familiar e o Movimento Familiar Cristão de Rio Grande e, hoje, em nível nacional. Quando falaram do material para trabalhar com futuros casais, confesso, fiquei preocupado. Achei “burocrata”, mas, também, com uma pulga atrás da orelha ao dizerem que eram “catequistas”. Como assim? Foi um belo testemunho, ao mostrarem que transformam teoria em prática, acolhem um casal em suas casas para que conheçam, na realidade do dia a dia, como se acerta e como se erra em constituir uma família.

O Movimento Familiar Cristão de Pelotas está programando a sua volta às atividades presenciais e tem um grande desafio que foi sintetizado na proposta do encontro que pretendem fazer no final de junho: “A volta das famílias à Igreja e aos Movimentos, no pós-pandemia”. Pensando que muitos querem voltar, outros ainda tem receios e alguns acabaram ficando ao longo do caminho… Atividades religiosas são marcadamente presenciais, o que não impede que se busquem formas adequadas de tratar de doentes e idosos, por exemplo, que ainda precisam de resguardo e atenção.

A família, hoje, não é formada apenas por pais e filhos. Quando este grupo se restringe, perde o sentido, especialmente do que é o afeto de avós, primos, tios, dindos, “agregados”, com ou sem laços de sangue. Em muitos casos, quem vive sob um mesmo teto divide a responsabilidade de cuidar uns dos outros. Aprende o respeito pelo espaço alheio e defender o grupo com o qual eu até posso brigar, mas que ninguém se julgue no direito de fazer o mesmo! Ali, as conquistas da vida iniciam por pequenos reconhecimento de acertos, mas também no consolo dos erros que se cometem.

Precisa-se de um grupo de acolhida e de referência para uma sociedade que emerge desta pandemia fragmentada e fragilizada. O pós-pandemia confirma problemas que se tinha e que grupos sociais – incluídas igrejas – precisam focar na educação e na família. Educação é o lugar para recuperar referências do conhecimento, em especial, os profissionais. Na família, encontra-se o necessário suporte afetivo. Não é fácil. Família não vem com manual de instruções. Entre rusgas e colos, é o porto seguro onde se recarregam energias e se encontra o sentido para fazer a vida valer a pena!

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